Lewis estava ansioso para chegar à casa que seria seu novo lar. Do banco de trás do carro, ele observava a paisagem passando rapidamente pela janela, tentando distrair a mente que parecia uma tempestade de pensamentos. Seus dedos tamborilavam no tecido do jeans, e ele mordia os lábios inferiores, uma tentativa frustrada de conter o nervosismo que crescia a cada milha percorrida.
—Tudo bem, querido? — A voz suave de sua mãe, Samanta, cortou o silêncio enquanto ela olhava para ele pelo retrovisor. O sorriso no rosto dela era reconfortante.
Lewis assentiu, retribuindo o sorriso, mas sem mostrar os dentes. Não queria que ela percebesse o quanto ele estava inquieto.
Ele iria ter uma nova família. Um novo pai. E até um irmão. Era algo que ele nunca imaginou que viveria novamente desde que o seu pai biológico morreu, há seis anos. A ideia de reconstruir algo tão íntimo como uma família parecia ao mesmo tempo emocionante e assustadora.
E se eles não gostassem dele? E se ele não se encaixasse? E se… ?
Ele fechou os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos negativos. Respirou fundo.
Lewis tinha 16 anos agora. Não era mais uma criança indefesa. Ele entendia que sua mãe merecia ser feliz, merecia alguém que a amasse e a cuidasse. E Daniel parecia ser esse alguém. Um homem gentil, estável, que parecia verdadeiramente apaixonado por sua mãe.
Lewis nunca teve motivos para desconfiar dele. Pelo contrário, as vezes em que se encontraram, Daniel foi atencioso, sempre perguntando sobre seus estudos e hobbies.
Além disso, havia o filho dele, Edward. Um garoto apenas um ano mais velho que Lewis. Samanta disse que ele era um pouco reservado, mas esperava que eles se dessem bem. Lewis também esperava. Ele sempre foi filho único, então, saber que finalmente teria alguém da sua idade que pudesse conversar, e entendesse o que ele estava passando deixava Lewis feliz e ansioso para conhecê-lo.
A morte de seu pai, quando ele tinha apenas dez anos, deixou cicatrizes profundas que ele nunca conseguiu apagar completamente. Durante muito tempo, foi apenas ele e sua mãe contra o mundo. Eles eram uma equipe. Samanta se desdobrou para manter tudo funcionando, para garantir que ele tivesse uma infância o mais estável possível, apesar da dor que ambos carregavam.
Por isso, quando sua mãe contou, há dois anos, que estava namorando alguém, Lewis não se opôs. Ele não era mais uma criança egoísta que pensava que a felicidade da mãe deveria girar em torno dele. Ele sabia que ela merecia mais. E quando, seis meses depois, ela anunciou o casamento, ele apenas deixou e garantiu que estaria ao seu lado sempre a apoiar.
Por isso, quando sua mãe contou, há dois anos, que estava namorando alguém, Lewis não se opôs. Ele não era mais uma criança egoísta que pensava que a felicidade da mãe deveria girar em torno dele. Ele sabia que ela merecia mais. E quando, seis meses depois, ela anunciou o casamento, ele apenas sorriu e garantiu que estaria ao seu lado sempre a apoiando.
Agora, enquanto o carro diminuía a velocidade ao entrar em uma longa estrada cercada por algumas poucas árvores e edifícios, Lewis sentiu um frio percorrer sua espinha. A casa que logo surgiria à sua frente simbolizava um recomeço — mas também uma completa incógnita.
— Chegamos — anunciou Samanta com uma voz quase emocionada.
A casa era grande. Situada no centro de Londres, sua construção era moderna e com a aparência bem cuidada, com janelas amplas e uma varanda que parecia convidativa sob o céu nublado daquela tarde. Havia algo imponente e, ao mesmo tempo, opressivo na arquitetura. Lewis não sabia dizer se era apenas a sua imaginação ou se realmente havia algo ali que fazia seu coração bater mais forte.
Daniel os esperava na entrada, sorrindo calorosamente. Ele era um homem alto, com cabelos escuros salpicados de grisalho e olhos castanhos-claros penetrantes
— Bem-vindos! — Ele abriu os braços, acolhendo Samanta em um abraço apertado antes de se voltar para Lewis. — Lewis! Seja bem-vindo, garoto. Essa casa agora também é sua.
Lewis sorriu, tímido, e aceitou o abraço de Daniel. Era um aperto firme, mas não agressivo.
— Obrigado — murmurou, quando o mais velho o soltou.
Daniel sorriu e guiou os dois para dentro da casa.
— Edward foi encontrar alguns amigos, mas mais tarde eu os apresento — disse Daniel enquanto os acompanhava pela casa.
— Eu tenho certeza de que vocês vão se dar bem, querido — acrescentou Samanta com um sorriso esperançoso.
Lewis retribuiu o sorriso, mas algo em seu peito apertava. A casa era bonita, confortável até, mas ele não conseguia se livrar dessa sensação estranha.
Depois de um rápido tour pela casa, Daniel os levou até os quartos. O quarto de Lewis era espaçoso, com uma cama confortável e uma grande janela com vista para o jardim dos fundos. Ele deixou sua mochila cair no chão e sentou-se na beira da cama, respirando fundo.
— Gostou, querido? — perguntou Samanta, entrando no quarto.
— Sim, mãe. É ótimo, eu gostei muito. — respondeu ele, dando um sorriso sincero.
— Agora as coisas vão ser melhores, já não estamos sozinhos. — Samanta comentou, abraçando o filho.
Lewis assentiu, retribuindo o carinho da mãe.
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Eles estavam descendo as escadas depois de Daniel terminar de mostrar todo o andar de cima, quando a porta de entrada foi aberta de forma brusca, batendo com força contra a parede. O som ecoou pela casa, fazendo Lewis estremecer.
Lewis viu um garoto entrar no hall, sua expressão era indiferente. Ele parou no meio da sala ao notar as novas pessoas. Seus olhos verdes encararam Lewis por alguns segundos, frios e avaliadores.
Lewis sentiu-se pequeno sob aquele olhar. O garoto era alto, com um porte atlético e cabelos castanho-claros cacheados, presos em um coque frouxo. Tinha uma presença intimidadora, e algo em seus olhos parecia carregar desprezo puro.
— Edward, que bom que chegou mais cedo. — disse Daniel. — Este é o Lewis, o filho da Samanta. Eles acabaram de chegar. — A voz de Daniel soou calma, mas havia um toque de firmeza. — Cumprimente sua nova família.
Edward crispou os lábios, mas não respondeu nada. Ele apenas desviou o olhar, bufou e começou a subir as escadas.
Daniel suspirou, negando com a cabeça. — Peço desculpas por isso, Lewis. Edward… ele pode ser um pouco difícil às vezes — disse Daniel, sorrindo sem graça.
— Tudo bem, querido. Ele só precisa de um tempo para se acostumar com a gente. — Samanta comentou, fazendo carinho nos ombros de Daniel.
Lewis lançou um olhar rápido para as escadas, onde Edward desapareceu de vista.
— Enfim, quem está com fome? — Daniel tentou mudar o clima, conduzindo-os até a cozinha.
A sala de jantar era ampla e bem iluminada, com uma grande mesa de vidro no centro, coberta por uma toalha branca impecável. Os pratos estavam organizados cuidadosamente, e o aroma de comida fresca enchia o ambiente. Samanta ajudava a organizar os últimos detalhes enquanto Daniel servia bebidas.
Lewis sentou-se em uma das cadeiras perto da ponta da mesa, sentindo-se deslocado. Ele observava cada detalhe, tentando se acostumar com a grandiosidade da casa. Naquele momento, parecia impossível para ele sentir que pertencia àquele lugar.
— Lewis, eu espero que você se sinta confortável aqui. — Daniel começou, sua voz firme, mas amigável. — Sei que mudanças podem ser difíceis, mas acredito que, com o tempo, tudo vai se encaixar.
— Obrigado, senhor Daniel. — O garoto respondeu com um sorriso tímido.
— Ora, nada de “senhor”! Pode me chamar de Daniel ou, se preferir, de pai. — Ele sorriu calorosamente, mas Lewis desviou o olhar, desconfortável com aquela sugestão.
— Certo… Daniel. — murmurou.
Samanta, percebendo a hesitação do filho, interveio. — Tenho certeza de que vamos nos adaptar rapidamente. Estamos muito felizes por estarmos aqui, não é, filho?
Lewis assentiu com um pequeno sorriso. A presença de sua mãe sempre trazia um pouco de conforto.
Enquanto serviam a comida, Daniel continuou a conversa: — Ah, quase me esqueci de mencionar. Lewis, já fizemos sua matrícula na nova escola. Você e Edward estão no mesmo colégio.
Lewis parou brevemente o garfo a meio caminho da boca, olhando hesitante pro Daniel. Ele lembrou do olhar de Edward e seu estômago embrulhou com a ideia.
— É uma escola excelente — continuou Daniel, sem perceber o desconforto de Lewis. — Eles têm ótimos professores, uma infraestrutura moderna e muitos clubes esportivos e culturais. Eu mesmo joguei futebol no time da escola quando era jovem. Quem sabe você não se interessa por algum clube?
— Isso seria incrível! — exclamou Samanta, sorrindo. — Lewis sempre gostou de andebol, não é, querido?
— É, eu… gosto bastante. — murmurou Lewis, forçando um sorriso para não desapontar sua mãe.
— Ótimo! Tenho certeza de que você vai se sair bem. E Edward… bem, Eduardo pode te mostrar o lugar e te ajudar com o que precisar. — Daniel concluiu, com um sorriso esperançoso.
Lewis apenas assentiu, mas a menção de Edward fez um calafrio percorrer sua espinha. A última coisa que ele queria agora era passar mais tempo perto daquele garoto.
O almoço prosseguiu com Samanta e Daniel conversando animadamente sobre os planos para o futuro, sobre como poderiam reformar alguns cômodos da casa e até planejar viagens em família.
A cadeira de Edward continuou vazia durante toda a refeição, uma lembrança silenciosa de que nem tudo seria tão simples quanto Daniel e Samanta esperavam.
A noite caiu rapidamente, e Lewis não viu Edward mais nenhuma vez. Lewis estava sentado em sua cama, olhando para fora pela janela. O jardim parecia tão bonito àquela hora.
Sozinho em seu quarto, Lewis sentou-se na cama com as luzes apagadas. A escuridão era quase acolhedora, mas ele não conseguia esquecer o olhar de Edward.
Ódio.
Não era só frieza ou indiferença. Era ódio puro. Lewis não sabia o motivo, mas tinha certeza de que Edward o desprezava.
Ele suspirou, deitando-se novamente na cama. Ele cruzou os braços e apoiou a cabeça neles. Observava o céu noturno.
— É só o começo — murmurou para si mesmo.
Ele acreditava que tudo ficaria bem, e que essa casa seria seu novo lar.
Mas as coisas estavam longe de ficarem bem.
E a realidade se revelaria muito mais sombria do que ele jamais poderia imaginar.