Lewis despertou bruscamente, tossindo e engasgando enquanto sentia a água escapar de sua boca. Seu peito ardia, e os soluços que escapavam eram involuntários e dolorosos. Ele piscou repetidamente, tentando ajustar sua visão embaçada à luz branca do banheiro.

— Graças a Deus!

A voz aflita de Samanta cortou o som das gotas d’água que escorriam do mármore da banheira.

— Ele acordou? Ele está bem?

— Lewis?

Agora era a voz de Daniel, firme, mas carregada de preocupação. — Consegue me ouvir?

Lewis ouviu os dois, mas tudo parecia abafado, como se ele ainda estivesse debaixo d’água. Ele tentou se lembrar do que havia acontecido, mas sua mente estava confusa e nebulosa. Lentamente, ele assentiu, e ouviu os dois mais velhos soltarem o ar que pareciam estar segurando.

— O que você estava pensando?!

O grito de Samanta atingiu com força seus ouvidos. Lewis raramente a ouvia gritar, e aquilo o fez estremecer ainda mais.

— Por que fez isso?! O que está acontecendo?!

A raiva em sua voz rapidamente deu lugar ao choro, as palavras saindo embargadas e trêmulas.

Lewis piscou algumas vezes, tentando entender o que ela estava dizendo. Ele não sabia do que ela estava falando. A última coisa que conseguia lembrar era de ter entrado na banheira, desejando apenas um momento de paz.

— Lewis.

A voz de Daniel agora era mais calma e delicada, como se tomasse todo cuidado para não assustar mais o enteado. — Por que você fez isso?

Lewis sentiu o peso da pergunta como uma tonelada sobre seus ombros. Ele se encolheu onde estava, ainda deitado no chão molhado, as roupas pesadas e úmidas coladas ao seu corpo.

— Eu não… eu não sei.

Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. Ele tentou olhar para eles, mas desviou os olhos rapidamente.

— Eu só queria descansar. Eu entrei na banheira e só queria descansar.

Samanta soltou uma risada incrédula, com lágrimas nos olhos.

— Você está dizendo que entrou numa banheira, vestido, deixou a água transbordar e acabou se afogando porque queria descansar? Lewis Christopher Tommer!

Lewis encolheu-se ainda mais ao ouvir seu nome completo ser pronunciado com tanta força. Ele fechou os olhos, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair de novo. Seu peito subia e descia rapidamente, e ele sentia como se o ar estivesse faltando.

— Calma, querida.

Daniel tentou acalmá-la, colocando uma mão em seu ombro. — Ele está explicando o que aconteceu.

Samanta esfregou o rosto com as mãos, um gesto de nervosismo que Lewis conhecia bem. Ela respirou fundo algumas vezes, tentando se recompor, mas sua expressão ainda estava cheia de preocupação e incredulidade.

Daniel se aproximou de Lewis, estendendo uma mão para ajudá-lo a se levantar. Ele aceitou, embora suas pernas tremessem tanto que mal conseguiam sustentar seu peso.

Com cuidado, Daniel o conduziu até o quarto e o ajudou a sentar na cama. Samanta os seguiu, embora permanecesse em silêncio por um momento, observando o filho com os olhos cheios de lágrimas.

Lewis olhou para ela, e sua voz saiu baixa e rouca:

— Eu não tentei me matar. Eu juro.

Ele estava dizendo a verdade. Embora houvesse uma parte de si que queria desesperadamente que tudo acabasse, ele sabia que não tinha coragem de tirar a própria vida. Não por ele, mas por sua mãe. Pensar no sofrimento que ela sentiria era suficiente para segurá-lo na linha tênue entre o desespero e a sobrevivência.

E então, o pensamento que aparecia constantemente: Por que eu me mataria? Não sou eu quem merece morrer. É ele. Edward. Ele que é o monstro.

Lewis apertou as mãos contra os joelhos, tentando afastar a imagem de Edward de sua mente. A ideia de denunciá-lo, de expor tudo, piscou brevemente em seus pensamentos, mas o medo tomou conta. Ele sabia que as consequências seriam terríveis. Edward nunca perdoaria algo assim. Ele não apenas o machucaria ainda mais, mas também faria mal a Samanta. Edward dizia que não só mataria sua mãe, como mandaria seus amigos se divertirem com ela antes disso.

Um arrepio passou pela espinha de Lewis. A única razão dele estar aguentando tudo isso é por ela. Pela sua mãe. De outra forma, Lewis já teria sucumbido à escuridão.

— Eu estava muito cansado…

Lewis interrompeu seus próprios pensamentos, tentando explicar. — Devo ter adormecido e não percebi. Desculpa.

Os dois mais velhos trocaram um olhar, como se estivessem tentando decidir se acreditavam ou não naquela explicação. Lewis sabia que era uma desculpa fraca, mas era a única que conseguia dar. Ele não podia contar a verdade. Não podia expor o monstro que vivia sob o mesmo teto.

Daniel suspirou profundamente e levantou-se.

— Está bem.

Ele olhou para Samanta, que parecia prestes a falar algo, mas Daniel levantou a mão, interrompendo-a.

— Deixe ele descansar por agora. Vá se trocar, Lewis, e depois desça. Precisamos conversar sobre isso.

Lewis mordeu o lábio inferior com força, lutando para conter as lágrimas. Ele assentiu lentamente, e Daniel pegou Samanta pela cintura, guiando-a para fora do quarto antes que ela pudesse insistir em mais perguntas.

Quando ficou sozinho, Lewis finalmente permitiu que as lágrimas caíssem. Ele olhou para suas mãos trêmulas e, depois, para o reflexo fraco no espelho do quarto. Seu rosto estava pálido, com as olheiras ainda mais escuras do que o normal. As roupas molhadas grudaram em seu corpo, e o frio começava a se instalar em seus ossos.

— Eu só queria descansar.

Sussurrou para si mesmo, a voz embargada pelo choro silencioso. Ele sabia que precisava se trocar, mas seu corpo parecia não obedecer. Ficou sentado na beirada da cama por longos minutos, tentando reunir forças.

Por fim, ele levantou-se lentamente e foi até o armário, pegando um moletom grosso e uma calça de tecido confortável.

O moletom tinha mangas largas que escondiam suas mãos trêmulas, e a gola alta ajudava a disfarçar qualquer marca visível em seu pescoço. Ele trocou de roupa com movimentos lentos e cuidadosos, evitando olhar para as próprias feridas.

Quando finalmente se sentiu pronto, Lewis respirou fundo e saiu do quarto. Ele desceu as escadas devagar, cada passo parecia mais pesado do que o anterior. Ao chegar na cozinha, encontrou Samanta sentada à mesa, as mãos entrelaçadas e os olhos fixos na xícara de café à sua frente. Daniel estava ao lado dela, com o rosto sério enquanto olhava para Lewis.

— Sente-se, filho.

A voz de Daniel não era dura, mas havia uma firmeza que Lewis não ousava desobedecer. Ele puxou a cadeira e sentou-se, evitando o olhar de ambos.

— Precisamos conversar.

Lewis sabia que aquela conversa seria difícil, mas o medo de revelar demais e enfrentar as consequências era ainda maior.