Lewis acordou meio tonto. A agressão da noite anterior estava fortemente presente em cada célula do seu corpo. Cada movimento parecia ativar uma onda de dor, e ele teve que se segurar no colchão antes de finalmente conseguir se levantar. O rosto estava vermelho e inchado devido às horas de choro silencioso.
Ao dar os primeiros passos para fora do quarto, ele cerrou os dentes, tentando ao máximo não mancar. Cada movimento enviava um choque agudo pelo seu corpo, e ele quase desistiu de sair. Mas não podia se dar ao luxo de ficar trancado ali. Sua mãe perceberia que algo estava errado.
— Lewis?
A voz de Samanta ecoou no corredor, fazendo seu corpo gelar automaticamente. Ele parou, congelado no lugar, com os dedos crispados na borda da camiseta.
— Querido, aconteceu algo? Por que está mancando?
Sua mãe já estava ao seu lado, os olhos cheios de preocupação. Lewis não conseguia encará-la. Seu estômago revirou e o gosto amargo da vergonha preencheu sua boca.
— E-eu… — Ele apertou os dedos no tecido da calça, tentando esconder o tremor. — Eu bati o pé na cama por levantar rápido demais.
Era uma desculpa frágil, mas ele não conseguia pensar em algo melhor.
— Oh, tenha mais cuidado, querido.
Samanta beijou sua testa e bagunçou seus cabelos com carinho. O gesto era tão puro e cheio de amor que fez Lewis se sentir ainda pior.
— Você nem está atrasado, faça as coisas devagar.
Ele assentiu, cabisbaixo, e se apressou para ir ao banheiro antes que mais perguntas viessem.
Lewis encarou seu reflexo no espelho. Os olhos vermelhos e inchados eram um testemunho silencioso das lágrimas derramadas na noite anterior. Seu lábio inferior estava rachado, com um pequeno corte no canto que pulsava levemente.
Ele tocou o ferimento com cuidado, sentindo o ardor imediato que fez seus olhos marejarem novamente. As sombras escuras sob seus olhos denunciavam a noite mal dormida, e o cansaço era quase palpável em seu rosto pálido.
Com as mãos trêmulas, ele ergueu a camisa. O tecido arranhou contra a pele marcada, arrancando um suspiro entrecortado de dor. Seu torso estava coberto de hematomas em tons de roxo, azul e verde, manchas irregulares espalhadas em sua pele. Algumas áreas ainda estavam sensíveis ao toque, e ele desviou o olhar rapidamente, envergonhado, mesmo estando sozinho.
Ele ligou o chuveiro e deixou a água quente escorrer pelo seu corpo. O calor ardia nas feridas abertas, fazendo-o morder o lábio com força para não soltar nenhum som. Cada gota parecia penetrar nas marcas, como se quisesse limpar não apenas sua pele, mas também o peso em seu peito.
Quando finalmente terminou, Lewis envolveu-se em uma toalha e ficou parado por alguns segundos, encarando o chão do banheiro. Respirou fundo antes de abrir a porta, mas assim que o fez, seu corpo congelou. Edward estava ali, encostado na parede do corredor, braços cruzados sobre o peito e olhar fixo nele.
O coração de Lewis disparou, e ele imediatamente abaixou a cabeça, os olhos fixos nos próprios pés. O ar parecia mais pesado, cada segundo estendendo-se como uma eternidade. Sem dizer uma palavra, ele caminhou rapidamente até seu quarto, sentindo os olhos de Edward cravados em suas costas.
Dentro do quarto, trancou a porta e deixou seu corpo deslizar até o chão por alguns segundos. Depois, respirou fundo e vestiu um moletom largo, de mangas compridas, que cobria a maior parte das manchas visíveis. Ajustou o capuz sobre os cabelos ainda úmidos e olhou-se mais uma vez no espelho do quarto. Seu rosto ainda estava abatido, mas pelo menos as marcas estavam escondidas.
Quando finalmente desceu para a cozinha, o cheiro de café fresco o recebeu, mas seu estômago estava embrulhado demais para pensar em comer. Ainda assim, forçou um sorriso fraco ao entrar no cômodo, escondendo, como sempre, as rachaduras invisíveis que o consumiam por dentro.
— Bom dia.
Ele se forçou a parecer normal enquanto puxava uma cadeira para se sentar.
— Bom dia, querido.
Samanta respondeu casualmente, fazendo um gesto para que ele se sentasse ao seu lado. Daniel sorriu em resposta. Edward, no entanto, não respondeu. Ele estava lá, sentado à frente de Lewis, com os olhos fixos em sua xícara de café. Mesmo assim, Lewis sentiu o peso do que a presença dele trazia pra ele.
Cada segundo sentado ali parecia uma eternidade. Lewis remexia-se na cadeira, incapaz de encontrar uma posição que não causasse dor.
— Querido, está tudo bem?
A voz preocupada de sua mãe trouxe-o de volta à realidade. Ele olhou para Samanta, seus olhos brilharam com lágrimas não derramadas. Ele desviou o olhar rapidamente e, sem querer, encontrou os olhos de Edward.
Aquele olhar. Sempre aquele olhar. Ele estava sendo lido, analisado. Os olhos verdes pareciam estar o provocando, desafiando Lewis a contar qualquer coisa.
Lewis engoliu em seco.
— Sim, eu só… fiquei muito tempo sentado ontem fazendo um trabalho.
Ele queria acreditar que, se dissesse isso com convicção suficiente, a dor que sentia realmente seria apenas pelo tempo sentado demais.
Edward levantou-se da mesa sem dizer uma palavra, encerrando o café da manhã primeiro. Lewis se apressou para acompanhá-lo, pegando sua mochila às pressas e murmurando um breve “até logo” para os pais.
Samanta acenou voltando a comer, e Daniel ficou observando Lewis por mais algum tempo, franzindo o rosto. Eventualmente ele voltou a ler seu jornal.
Lewis caminhava alguns passos atrás de Edward enquanto seguiam para a escola. Ele nunca ousava andar ao lado dele, nem mesmo olhar diretamente para suas costas.
Se dependesse de Lewis ele iria sozinho pra escola, porque, só estar na presença de Edward o causava repulsa. Mas ele não podia mudar isso sendo que fora uma ordem de Daniel para o cacheado. E se Lewis recusasse chamaria atenção dos adultos. Coisa que ele tinha que evitar.
Ao chegarem, Edward seguiu para seu grupo de amigos sem nem olhar para trás. Lewis soltou um suspiro aliviado e seguiu por outro caminho, procurando por Alex. Ao encontrá-lo, entregou o casaco emprestado.
— Obrigado, Alex. De verdade.
Sua voz mal passou de um sussurro, mas Alex sorriu gentilmente, assentindo. Lewis se afastou rapidamente antes que Edward pudesse aparecer.
Enquanto caminhava pelos corredores, um impacto repentino fez sua mochila cair ao chão.
— Oh, me desculpe, sou um desastrado!
Uma voz desconhecida soou atrás dele. Lewis rapidamente se abaixou para pegar suas coisas, mas o loiro à sua frente já estava fazendo isso.
— Aqui, desculpa mesmo.
Lewis não respondeu. Seus olhos varreram o corredor em busca de Edward. Ele precisava se certificar de que não estava por perto.
— Ei!
O loiro chamou sua atenção novamente. — Eu sou novo aqui e não encontro a minha sala. Pode me ajudar?
Lewis parou, hesitante. Ele olhou novamente ao redor antes de finalmente assentir.
— Eu sou Nick. Nick Huber. Pode dar uma olhada no meu horário e me dizer onde ficam as salas de aula?
Lewis pegou o papel que Nick estendia e analisou-o rapidamente.
— Suas duas primeiras aulas são na mesma sala que a minha.
— Ótimo! Podemos ir juntos então, né? Você já está indo pra lá?
Lewis assentiu novamente e começou a caminhar, sem esperar por Nick. O garoto loiro, no entanto, não se deixou abalar pelo silêncio.
— Sabe, na minha escola antiga eu tinha muitos amigos. Eu sou meio falante, você deve ter percebido.
Sim. E Lewis queria que ele parasse de falar. Cada palavra parecia ecoar mais alto do que deveria, atraindo olhares que ele preferia evitar.
— Aqui as pessoas são legais?
Lewis encolheu os ombros.
— Não sei. Você vai ter que descobrir.
Ao entrarem na sala, Nick sorriu amplamente.
— Valeu pela companhia!
Sua voz era alta demais. Lewis congelou. Todos olharam para eles, mas apenas um olhar importava. Edward. Ele estava sentado com seus amigos, e seus olhos já estavam em Lewis.
As mãos de Lewis começaram a tremer. Ele baixou a cabeça e correu para seu lugar. Seu coração batia tão forte que ele podia ouvir o som em seus ouvidos.
Ele sabia que Edward estava bravo. Podia sentir.
Lewis não podia ter amigos. Não podia conversar com ninguém. Edward já havia deixado isso claro tantas vezes.
Cada palavra trocada com alguém que não fosse Edward era uma desobediência. E desobediências tinham consequências. Consequências que Lewis conhecia bem demais.
A aula começou, mas Lewis não conseguia se concentrar. Sua mente estava em Edward.
Lewis queria desaparecer. Queria ser invisível.
Mas não podia. Porque Edward nunca deixaria isso acontecer.
Lewis respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado. Ele só precisava aguentar até o final do dia. Mais algumas horas. Ele podia fazer isso.
Podia… ou pelo menos era o que ele dizia a si mesmo.