Lewis estava de pé ao lado do carro de Edward, os dedos crispados ao redor das alças da mochila, como se aquilo fosse o único elo que o mantinha ancorado à realidade.
Ele havia pensado em diversas maneiras de evitar aquele momento. Poderia ter saído mais cedo. Poderia ter pegado um ônibus. Poderia ter simplesmente corrido. Mas sabia que nada disso adiantaria. Eduardo o encontraria em casa de qualquer jeito. E ele aprendeu da pior forma que adiar só piorava as coisas.
Então, ele esperava.
O vento frio da tarde roçava sua pele, mas o incômodo era pequeno comparado ao peso da ansiedade em seu peito. Tudo o que Lewis podia fazer era desejar que o dia em que Eduardo fosse embora finalmente chegasse — que ele se ocupasse com a universidade, que encontrasse outra distração, que seguisse com a própria vida e esquecesse dele.
Ele não pode continuar assim para sempre, certo?
Era essa esperança frágil que o mantinha respirando. Tudo terminaria logo. Só precisava continuar sendo obediente.
Os minutos se arrastavam, e a sensação de aperto em seu peito só aumentava. Ele contou cada segundo, porque sua mente não lhe dava outra escolha. Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete… Aos trinta minutos exatos, Eduardo finalmente apareceu.
O estômago de Lewis revirou no instante em que o viu.
O cacheado caminhava com aquele jeito casual e confiante de sempre, um sorriso preguiçoso nos lábios. Mas o que fez o sangue de Lewis gelar não foi só Edward. Mas também a garota ao seu lado.
A capitã das líderes de torcida.
Ela o viu e sorriu. Um sorriso afiado, proposital.
— Oi, Lewis. — disse ela, pronunciando seu nome errado de propósito.
Lewis apenas ignorou, sem encará-la. Era um jogo antigo, e ele já havia aprendido a não reagir.
Ele pensou que ela fosse embora depois disso. Tinha seu próprio carro, então não havia razão para continuar ali. Mas quando ela abriu a porta do passageiro e entrou no veículo, seu corpo enrijeceu.
Franziu a testa, lançando um olhar breve a Eduardo, confuso.
Apertou mais as alças da mochila, uma pequena faísca de esperança acendendo em seu peito. De que talvez Eduardo estivesse dando uma carona para ela. E talvez a estivesse levando para casa para ficar com ela.
Talvez, só por hoje, ele tivesse um pouco de paz.
Quando os dois se acomodaram, Lewis se apressou em entrar também, ocupando o banco de trás.
Seu coração disparava, sufocado pela ansiedade, enquanto fingia observar a estrada. Fingir era tudo o que podia fazer.
Ellie — esse era o nome dela — parecia se divertir humilhando Lewis. Sempre encontrava uma nova forma de espetá-lo, de arrancar qualquer resquício de dignidade que ele ainda tentava manter. E o pior era que ele sabia que Edward a juntava a ele de propósito, apenas para assistir. Como se não bastasse a humilhação que ele mesmo infligia.
O carro mal havia saído do estacionamento da escola quando ela lançou a primeira provocação:
— Eu jurava que você era virgem, Lewis!
Lewis manteve o olhar fixo na janela, fingindo não ouvir. Fingindo que aquilo não o atingia.
Ellie, no entanto, não desistiu. Inclinou-se levemente no banco, os olhos brilhando com diversão maldosa.
— De fato, quem vê cara não vê coração — continuou, o tom impregnado de falso espanto, enquanto o examinava de cima a baixo. Um sorriso de canto se formou em seus lábios. — Quem diria que o quietinho da escola gosta de uma violência?
Lewis sentiu o sangue fugir de seu rosto. Seu peito apertou. Ele soltou um suspiro baixo, calculado, tentando conter qualquer reação visível. Responder só tornaria tudo pior.
O carro seguiu em frente, cortando as ruas conhecidas, e ele tentou se concentrar em qualquer coisa que o distraísse. No som do motor. Nos postes passando um a um. No ritmo de sua própria respiração.
Mas quando reconheceu a rua em que estavam, tudo dentro dele enrijeceu.
O mal-estar cresceu em ondas. Seu coração acelerou, e um suor frio começou a se formar em sua nuca.
Ele sabia exatamente aonde estavam indo.
Por favor, não… Não.
A súplica ecoou em sua mente, mas ficou presa em sua garganta.
Eduardo estacionou em frente a uma casa.
— Pensei que a gente ia pra sua casa, Edward — reclamou Ellie, cruzando os braços e lançando-lhe um olhar insatisfeito.
— Preciso resolver umas coisas.
— Mas você disse… — ela começou, mas foi interrompida pelo tom frio e cortante de Eduardo:
— Foda-se o que eu disse. Sai logo, tenho que ir.
Ellie fez uma careta de raiva.
— Você é um idiota! — cuspiu, abrindo a porta, mas antes que conseguisse sair, um puxão brusco a deteve.
A mão de Edward se fechou em seu cabelo, puxando-o com força para trás.
Ela gritou, tentando afastá-lo, os dedos tremendo enquanto tentava soltar os fios presos em sua mão. As lágrimas subiram rapidamente aos olhos, o choque estampado em sua expressão.
Lewis assistia à cena, imóvel, o horror crescendo em sua garganta. Nunca vira Eduardo ser agressivo com outra pessoa. Essa brutalidade era geralmente reservada para ele.
— Eu não tô no melhor humor — murmurou Edward em seu ouvido, a voz baixa, perigosa. — E você devia ter percebido isso quando eu recusei foder você mais cedo.
O puxão se intensificou, fazendo Ellie soltar um gemido desesperado.
— Mas eu fui bonzinho o suficiente pra te trazer até aqui — ele continuou, sem soltar seu cabelo. — E é assim que você me agradece?
Lewis se encolheu no banco, o desconforto sufocando seu peito.
— D-desculpa… Edward… — soluçou Ellie, tremendo.
Ele se inclinou mais perto, a voz um sussurro cortante:
— Na próxima vez, pensa melhor antes de abrir essa boca pra mim.
Então, com um último puxão, empurrou sua cabeça contra a janela. O som do impacto ecoou pelo carro, e Lewis prendeu a respiração.
Ellie arfou, desorientada, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Sem hesitar, destravou a porta e saiu cambaleando, correndo em direção à casa sem olhar para trás.
Lewis engoliu em seco, encarando as próprias mãos trêmulas sobre o colo.
— Tá esperando o quê? — A voz de Edward cortou o silêncio, carregada de impaciência. — Sou seu motorista agora, porra?
O susto fez Lewis estremecer. Ele se apressou em soltar o cinto e sair do banco de trás, passando para o assento do passageiro.
— D-desculpa… — murmurou, quase sem voz.
Edward não respondeu. Apenas ligou o carro novamente, o motor roncando no silêncio sufocante que se instalou entre eles.
Depois daquela cena, a inquietação de Lewis só aumentava. Edward estava furioso — e ele sabia que o motivo era ele.
O silêncio durou por alguns minutos, até Eduardo finalmente quebrá-lo:
— Desde quando você é tão amigo do Miller e do novato?
A pergunta fez um arrepio subir pela espinha de Lewis. Seu corpo inteiro ficou em alerta.
— Eu não sou — respondeu apressado, a voz trêmula. — Não sou amigo deles…
Edward ergueu a sobrancelha, deixando escapar uma risada seca, carregada de descrença.
Então, com um olhar distante, assentiu para si mesmo, como se tivesse acabado de confirmar algo que só ele entendia.
*****
— Aonde você pensa que vai?
A voz de Edward interrompeu Lewis no instante em que ele tentou entrar em seu próprio quarto.
Lewis cerrou os punhos, hesitando por um segundo, antes de se virar e seguir em silêncio até o quarto do cacheado.
Assim que a porta se fechou com força atrás de si, seu corpo inteiro ficou rígido.
— Você deve estar adorando a ideia de eu sair de casa, não é?
Lewis deu um passo para trás, o coração acelerado.
Eduardo avançou lentamente, um sorriso cruel brincando nos lábios.
— Acha que vai se livrar de mim assim, irmãozinho?
Lewis abaixou os olhos, recusando-se a encará-lo.
A risada fria de Edward ecoou pelo quarto, carregada de crueldade. Antes que pudesse reagir, Lewis sentiu o puxão violento em seu cabelo, o couro cabeludo ardendo com a força brutal. Um gemido de dor escapou de seus lábios.
— E parece que você já encontrou novos caras para te foder, não é? — Edward zombou, apertando ainda mais o punho em seus fios.
— N-não é isso! — Lewis segurou o pulso dele em desespero. — Por favor, Eduardo… Isso não é verdade!
Mas sua súplica não adiantou. Com um empurrão forte, foi lançado ao chão.
O impacto o atordoou, mas antes que pudesse se recompor, Eduardo já estava abaixado, o rosto próximo ao seu.
— Tenho uma surpresa para você, maninho — murmurou, a voz calma, porém carregada de ameaça. Um sorriso cruel brincava em seus lábios. — A partir de agora, vou te buscar na escola todos os dias. Vamos nos divertir muito no meu apartamento.
O mundo de Lewis parou.
— O… o quê? — Ele tremia, sem conseguir acreditar no que ouvira.
— Você escutou bem.
Edward se levantou.
— Não! — Lewis exclamou, a voz vacilante, o desespero tomando conta.
Edward parou no momento em que começava a tirar a camisa.
— V-você não pode fazer isso… — A voz de Lewis falhou, e ele se arrastou para longe, em uma tentativa inútil de escapar.
— Você já teve o que queria! — gritou, a angústia transbordando. — Já vingou sua mãe! Já…
O choro embargou sua voz. Ele tentou engolir as lágrimas, mas o peso daquela angústia era demais.
— Você já me destruiu…
Edward começou a se aproximar lentamente. Lewis quis correr, mas Eduardo foi mais rápido.
A mão dele se fechou em torno de seu braço, a pressão ameaçando quebrá-lo. Então veio o tapa. Rápido, forte, ardendo contra sua pele.
— Quem você pensa que é para decidir quando a minha vingança acaba? — O tom de Edward era envenenado de ódio.
Outro tapa.
Lewis sentiu o gosto de sangue na boca.
Os dedos de Edward agarraram seu rosto, forçando-o a encará-lo.
— Você acha que eu já te destruí, irmãozinho? — sussurrou, o sorriso perverso nunca deixando seus lábios. — Mas você ainda está respirando.
O arrepio que percorreu o corpo de Lewis foi interrompido pelo soco violento em seu estômago. O ar escapou de seus pulmões em um jorro de dor, e ele desmoronou no chão.
Mal teve tempo de recuperar o fôlego antes que o inferno recomeçasse.
Cada golpe de Eduardo vinha carregado de raiva, extravasando tudo o que fervia dentro dele naquele pequeno corpo.
— Isso só vai acabar quando você e a vagabunda da sua mãe desaparecerem da minha vida.
Lewis sentiu o mundo girar quando Edward o virou com brutalidade, pressionando seu rosto contra o chão e abaixando suas calças.
Lewis tentou se debater mas em cada movimento seu, Edward pressionava com mais força seu rosto contra o chão.
Lewis sentiu a respiração quente e ameaçadora contra sua orelha.
— Até lá, irmãozinho… — O sussurro de Edward era gélido como a morte. — Você continuará sendo meu brinquedo.
Lewis gritou de dor quando Eduardo o invadiu sem piedade. A sensação era de estar sendo dilacerado por dentro.
Mas, apesar da dor que tomava conta de seu corpo, os olhos de Lewis estavam vazios, sem brilho, sem vida.
Em sua mente, as palavras cruéis de Edward ecoavam como uma sentença irrevogável. E, naquele momento, qualquer fagulha de esperança que ele ousou ter se apagou por completo.