A porta do quarto se abriu com um ranger suave, mas para Lewis, o som foi ensurdecedor. Um arrepio percorreu sua espinha, e ele se encolheu instintivamente sob os lençóis, segurando a respiração como se isso pudesse torná-lo invisível.

Seus olhos estavam fechados com força, mas ele sentia a presença na escuridão. O farfalhar das roupas, os passos lentos e calculados em direção à cama.

Seu coração pulsava tão forte que ele achou que fosse explodir.

— Por favor, por favor, por favor… — Sua voz saiu em um sussurro quebrado, entremeado por soluços trêmulos. — Eu estou machucado, a-apenas hoje… me deixe descansar, por favor.

Suas palavras eram uma súplica, um pedido desesperado por misericórdia. Mas não havia compaixão ali.

O lençol que o cobria foi arrancado brutalmente, expondo seu corpo trêmulo ao ar frio do quarto. O desespero apertou seu peito como garras invisíveis. Lewis cobriu a boca para sufocar os soluços, seu corpo encolhendo, tentando se afastar, mas não havia para onde correr.

O peso sobre si era sufocante.

— Por favor… por favor, não… por favor…

Mas ninguém o escutava.

O terror era real. Ele estava preso. Sem saída.

— Lewis! Acorda! Querido, acorda!

Um grito o puxou do pesadelo como um choque.

Lewis puxou o ar de forma desesperada, seu peito subindo e descendo freneticamente. Seu coração batia contra suas costelas, e sua pele estava coberta de suor frio. Seu olhar percorreu o quarto como se esperasse encontrar Edward ali.

Mas ele não estava.

Era um sonho.

Era um sonho.

O alívio foi quase imediato, mas veio misturado com um desespero residual. Lewis abraçou o próprio corpo, tentando conter os tremores. Sua respiração era irregular, pesada, como se ainda estivesse tentando escapar do que acontecera dentro de sua mente.

— Querido?

A voz de sua mãe o trouxe de volta ao presente. Ele não tinha percebido sua presença até então.

Quando finalmente ergueu os olhos para Samanta, viu a preocupação estampada no rosto dela. Havia lágrimas acumuladas em seus olhos, como se a dor que ele carregava estivesse se espalhando por ela.

Sem pensar, ele se lançou nos braços da mãe, agarrando-se a ela com força, como se sua vida dependesse disso.

— Está tudo bem, foi apenas um sonho. — Samanta sussurrou contra seus cabelos, envolvendo-o em um abraço apertado. Sua mão começou a se mover lentamente por seus fios, enquanto a outra acariciava suas costas.

Mas não era só um sonho. Era um pedaço da realidade que ele estava condenado a reviver todas as noites.

O coração de Samanta estava angustiado. Ela nunca havia visto o filho assim. Nunca. Mesmo quando pequeno, quando tinha pesadelos, ele nunca tremia e chorava desse jeito.

Lewis apenas se encolheu mais em seu abraço, escondendo o rosto contra o peito da mãe.

— Mãe… — sua voz saiu trêmula, quase inaudível.

— Sim, querido?

Ele hesitou por um momento. Sentiu seus dedos apertarem o tecido da blusa da mãe como se quisesse se agarrar à única coisa que ainda parecia segura para ele.

— Podemos… — ele respirou fundo, sua garganta apertada, e então sussurrou: — Podemos voltar para Doncaster?

O pedido foi tão baixo que quase se perdeu no silêncio do quarto.

Samanta piscou, surpresa. Ela afastou-se um pouco para encará-lo, segurando delicadamente seu rosto entre as mãos.

— Por que isso agora, querido? O que está acontecendo?

Lewis abaixou o olhar, soltando lentamente a blusa da mãe. Ele uniu as mãos em seu colo, observando os próprios dedos, nervoso.

— Não é nada. — ele mentiu. — Eu só… não gosto dessa cidade. Principalmente da escola.

Ele queria dizer principalmente daquela casa, onde cada canto era um lembrete dos horrores que enfrentava. Ele queria dizer principalmente de Edward, que era a origem de tudo. Mas ele não disse nada disso. Apenas deu de ombros, como se o que estivesse pedindo fosse algo sem importância.

Samanta franziu a testa, sua expressão carregada de preocupação.

— Você não se sente bem naquela escola? — Sua mente imediatamente buscou explicações. — Os meninos lá estão fazendo alguma coisa com você, querido?

Bullying. Era a única resposta lógica para ela. Algo na escola estava machucando seu filho, e ele estava tentando escapar.

Lewis negou com a cabeça, mas manteve o olhar baixo.

Isso foi o suficiente para acender um alerta na mente da mãe.

— Lewis, — ela chamou baixinho.

Ele hesitou antes de erguer o olhar.

— Nós temos uma nova família agora. — Samanta disse suavemente. — Uma nova vida. Não podemos simplesmente ir embora. Você entende?

Lewis apenas assentiu.

Mas a verdade era que ele não entendia.

Ou melhor, ele entendia, mas não aceitava.

A nova vida que sua mãe falava não significava nada para ele. O que tinha de novo ali? Nada. Apenas dor. Apenas o medo de cada dia, a sensação de estar preso, sem uma saída visível.

Mas ele não insistiu. Não adiantaria.

Samanta suspirou e puxou-o para um abraço novamente.

— Fugir não é a solução, meu amor. — Ela murmurou contra seus cabelos. — Se tivermos um problema, precisamos enfrentá-lo de frente. Não tenha medo, eu estou aqui. Entendeu?

Lewis assentiu.

Mas aquelas palavras o deixaram reflexivo.

Não tenha medo.

Como poderia?

Como poderia não sentir medo quando o próprio monstro dormia sob o mesmo teto?

Ele queria poder acreditar naquilo. Queria que suas palavras fossem uma promessa real, que sua presença fosse suficiente para protegê-lo. Mas no fundo, ele sabia que não era.

Ele continuou em silêncio, tentando encontrar conforto nos braços da mãe.

Mas nada apagava a sensação de que, naquela casa, ele nunca estaria verdadeiramente seguro.

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A luz suave do fim da tarde filtrava-se pelas cortinas brancas do hospital, lançando sombras delicadas sobre os lençóis impecáveis da cama. Lewis sentia o corpo ainda doloroso, mas pelo menos agora sabia que estava indo para casa.

Samanta dobrava cuidadosamente a roupa que ele usaria para sair dali, certificando-se de que estava tudo pronto. Seus gestos eram suaves, mas havia uma tensão evidente em seus ombros. Desde o momento em que o médico informara que Lewis estava liberado, ela não havia deixado seu lado, preocupando-se com cada detalhe.

— Você consegue se vestir sozinho, querido? — Perguntou ela, pousando a roupa dobrada ao lado dele na cama.

Lewis assentiu levemente. Ainda que se sentisse fraco, não queria parecer incapaz.

— Se precisar de ajuda, me chame, sim? — Samanta insistiu, mas deu um passo para trás para lhe dar espaço.

Com um esforço visível, Lewis se moveu para fora da cama. Sentiu as pernas trêmulas, mas se recusou a vacilar. Cada pequeno movimento enviava ondas de dor por seu corpo. Ele vestiu-se devagar, prendendo a respiração ao puxar a camiseta sobre os ombros doloridos.

Enquanto ele terminava, Samanta verificava a sacola ao lado da cama, certificando-se de que tinha guardado tudo. Havia alguns pertences pessoais, a garrafa de água que Lewis quase não tocara e o casaco que ele vestia quando fora trazido para o hospital, agora dobrado e limpo.

A porta do quarto se abriu, e Daniel entrou, observando a cena com um olhar atento.

— Está tudo pronto? — Perguntou ele, mantendo a voz suave.

Samanta assentiu, olhando para Lewis, que ainda parecia hesitante. — Sim, estamos prontos.

Daniel aproximou-se do filho, estudando-o com atenção. Lewis ainda estava pálido, com os olhos cansados e a postura tensa. Mesmo após dias de repouso, ele parecia longe de estar bem.

— Vamos, então. — Daniel pegou a sacola, enquanto Samanta segurava suavemente o braço de Lewis para ajudá-lo a caminhar até a porta.

O corredor do hospital estava silencioso, exceto pelo som de passos e das rodas do carrinho de medicamentos sendo empurrado por uma enfermeira ao longe. Lewis sentiu o cheiro característico de desinfetante no ar, e um alívio discreto tomou conta dele ao saber que estava deixando aquele lugar para trás.

Quando chegaram ao carro, Daniel abriu a porta para ele, e Lewis deslizou para o banco traseiro com cuidado. Samanta entrou ao seu lado, lançando-lhe um olhar carinhoso, como se pudesse protegê-lo apenas com sua presença.

A viagem para casa foi silenciosa. Lewis observava a cidade através da janela, sentindo uma inquietação crescer em seu peito. Estava indo para casa. Mas aquilo significava estar sob o mesmo teto que Edward novamente.

E a sensação de segurança que o hospital proporcionava desapareceu no instante em que o carro pegou o caminho de volta.