— Olá?

Lewis acordou com um leve balanço em seu ombro. Seu corpo reagiu imediatamente, o susto o fez soltar um pequeno sobressalto. Ele piscou os olhos rapidamente, ainda confuso, tentando entender onde estava. Quando olhou para cima, encontrou um jovem loiro o encarando com uma expressão meio envergonhada.

— Foi mal, assustei você? — perguntou o rapaz, coçando a nuca de maneira desajeitada, parecendo desconfortável com a reação de Lewis.

Lewis piscou mais algumas vezes, tentando focar no rosto do estranho. Ainda estava meio atordoado pelo sono inesperado e pela súbita interrupção. Ele notou que o loiro tinha olhos claros e um sorriso quase tímido, como se estivesse arrependido de tê-lo despertado. Quando Lewis não respondeu imediatamente, o rapaz continuou:

— Ah, meu sobrinho queria brincar nessa casinha. Desculpa por isso, ele é um pouco tímido, então, como essa era a única sem crianças… — Ele gesticulou para o lado, indicando a criança pequena que estava parcialmente escondida atrás de sua perna.

Lewis seguiu o gesto com o olhar e viu o menino, que segurava um carrinho de bombeiros vermelho nas mãos pequenas. O garoto o observava com curiosidade, mas sem dizer uma palavra, parecendo tão tímido quanto o tio havia mencionado.

— Ah… tudo bem. Eu invadi o espaço dele de qualquer forma. — A voz de Lewis saiu baixa e um pouco rouca pelo tempo sem uso. Ele desviou o olhar, tentando evitar o contato visual com o rapaz e a criança, sentindo-se um intruso.

Ele se levantou devagar, com os músculos protestando devido ao desconforto da posição em que havia dormido. Seu corpo ainda carregava as dores que se tornaram parte de sua rotina a muito tempo, um lembrete constante de tudo que ele estava enfrentando. Lewis saiu da casinha, sentindo o peso de seus próprios pensamentos voltarem a assombrá-lo.

Do lado de fora, o sol já estava se pondo. O céu estava tingido de laranja e rosa, com as últimas luzes do dia começando a se despedir. Ele piscou algumas vezes, tentando ajustar os olhos à luminosidade suave do crepúsculo. Instintivamente, levou as mãos aos olhos, esfregando-os para afastar o restante do sono que ainda pairava sobre ele.

Por um momento, Lewis parou e olhou para trás, na direção da pequena casinha de madeira de onde tinha acabado de sair. Uma casinha de parque infantil. Ele sentiu um nó na garganta ao perceber que havia conseguido descansar mais ali, em um lugar tão simples e improvisado, do que em sua própria casa. Não era normal. Não deveria ser assim.

Lewis puxou o celular do bolso para verificar as horas. 5:00 PM. Ele suspirou. Talvez fosse hora de voltar.

Ao desbloquear a tela, viu algumas mensagens de sua mãe. Uma delas chamou sua atenção:

De: Mamãe 4:30 PM

Onde você está, querido? Já estou em casa

Ele respondeu:

Estou no parque, já estou voltando.

Mas foi outra mensagem, vinda de Edward, que fez o coração de Lewis afundar.

De: Edward 2:12 PM

Você vai pagar caro por isso, maninho.

Um arrepio frio percorreu seu corpo. O medo tomou conta de sua mente. Ele sentiu as mãos começarem a tremer enquanto a tela do celular parecia pesar mais do que deveria. 

Provavelmente Edward estava muito furioso por ele ter saído, e aquele aviso era claro: ele não escaparia. Talvez o que o Smith fizer com ele agora seja pior do que faria se ele não tivesse fugido, mas… Lewis não se arrepende.

Ele realmente precisava daquele descanso. Só nessas três horas conseguiu respirar mais do que conseguia quando estava em casa.

Ele não se arrepende, mas… estava com tanto medo. Edward é realmente assustador quando está com raiva.

Sem perceber, uma lágrima rolou pelo rosto de Lewis. Ele a limpou apressadamente, respirando fundo várias vezes para impedir que mais lágrimas escapassem.

— Está tudo bem?

A voz familiar o fez virar. Era o rapaz loiro de antes, sentado em um dos bancos perto da área das casinhas. O menino agora brincava sozinho, passando o carrinho de bombeiros pelo chão de madeira.

Lewis pensou em ignorar a pergunta, simplesmente virar as costas e ir embora. Mas a ideia de voltar para casa o aterrorizava.

Ele assentiu, forçando um sorriso que sabia ser falso.

O loiro estreitou os olhos, claramente não acreditando, mas não insistiu. Ele deu um tapinha no espaço vazio ao seu lado no banco.

— Se quiser, pode sentar aqui. Não vou fazer nada, é só pra você não ficar aí de pé.

A voz do rapaz era tranquila e gentil, mas isso não foi suficiente para aliviar o aperto no peito de Lewis. Ele sabia que não podia confiar em ninguém, especialmente em um homem. Ele tinha motivos de sobra para isso.

— Não, obrigado.

Lewis balançou a cabeça, recusando a oferta. O loiro pareceu notar a tensão no corpo do Tommer, mas não o forçou. Lewis se virou e começou a caminhar para longe, com passos hesitantes e lentos.

O caminho para casa foi longo. Não pela distância, mas pelo peso que carregava nos ombros. Cada passo parecia um esforço imenso, e a sensação de pânico o acompanhava a cada esquina. Ele sabia que não podia evitar o inevitável. Mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar as consequências de seus atos.

Quando finalmente chegou, encontrou a porta destrancada. Isso significava que sua mãe estava mesmo em casa. Lewis entrou devagar, quase sem fazer barulho, como se estivesse pisando em ovos.

No corredor, ouviu vozes vindo da cozinha. Caminhou até lá e viu Samanta falando ao telefone, de costas para ele. Quando ela se virou, abriu um sorriso caloroso ao vê-lo.

Lewis acenou timidamente e se apressou em subir as escadas antes que ela fizesse perguntas.

No quarto, trancou a porta assim que entrou, girando a chave duas vezes para garantir que ninguém pudesse entrar. Soltou o ar preso em seus pulmões, mas o alívio durou pouco. Seu corpo ainda tremia, e sua respiração estava acelerada.

Ele se deitou na cama, abraçando o próprio corpo enquanto se encolhia. As mãos seguravam os braços com força, como se isso pudesse afastar o medo.

Por favor…

A palavra escapou de seus lábios num sussurro. Ele não sabia exatamente para quem estava pedindo, mas a súplica parecia necessária.

Fechou os olhos, desejando que pudesse apagar completamente. Queria dormir, mergulhar na inconsciência, e só acordar no dia seguinte. Mas por mais que tentasse, o sono não vinha.

O medo era maior.

Ele podia ouvir o eco das palavras de Edward em sua mente.

Você vai pagar caro por isso, maninho.

A frase reverberava como um grito, sufocando-o. Lewis sabia que Edward cumpriria sua promessa. 

Ele sempre cumpria.

O tempo passou devagar, cada minuto se arrastando como uma eternidade. Lewis tentou distrair a mente, mas nada parecia funcionar. Ele sabia que Edward estava lá fora, esperando o momento certo para agir.

Finalmente, o som de passos no corredor o trouxe de volta à realidade. Seu coração disparou. Ele ouviu a porta do quarto de Edward abrir e fechar.

Lewis prendeu a respiração, esperando. Mas tudo permaneceu quieto.

Talvez, só talvez, Edward estivesse cansado demais para fazer algo naquela noite. Talvez ele pudesse escapar dessa vez.

Ele abraçou essa esperança, mesmo sabendo que era frágil.

Lá embaixo, ouviu a voz de Samanta chamando por ele.

— Lewis, querido, o jantar está pronto!

Respirando fundo, ele se levantou lentamente. Passou a mão pelo rosto, tentando apagar os sinais de choro, e ajustou as roupas antes de abrir a porta. Cada movimento era cauteloso, como se qualquer som pudesse atrair a atenção indesejada de Edward.

Ao descer as escadas, encontrou Daniel e sua mãe colocando os pratos na mesa. Ela lhe deu um sorriso caloroso, e Lewis tentou retribuir, mas sabia que seu rosto ainda carregava as marcas do medo.

— Como você está, querido? — Daniel perguntou caloroso.

— Bem, obrigado. — O menor forçou um sorriso e se sentou em seu lugar. Samanta e Daniel o seguiram depois.

Edward não estava na cozinha, para sua sorte.

Por enquanto, ele estava salvo.

Mas Lewis sabia que essa paz seria breve.