Lewis não estava prestando atenção. Ele tentava, mas simplesmente não conseguia.

Sua visão era um borrão, e sua cabeça latejava ainda mais do que quando acordara naquela manhã.

O suor escorria por sua testa, e, por mais que tentasse limpá-lo com a manga da camisa, parecia inútil. Seu corpo tremia, exausto, como se estivesse chegando ao limite.

— Tommer!

O som do próprio nome fez Lewis estremecer. Seu olhar assustado correu até a origem do chamado. O professor o observava com um misto de interrogação e preocupação.

— Você está bem? Por que não está fazendo o teste?

Teste?

Lewis prendeu a respiração. Só então percebeu as duas folhas sobre sua mesa.

Ele estivera tão aéreo que sequer notara quando o professor as distribuiu. Engolindo em seco, desviou o olhar para o homem à sua frente, que continuava esperando uma resposta.

— E-eu estou bem… Desculpe.

Com os dedos trêmulos, pegou a caneta e apertou os olhos com força, tentando, de alguma forma, encontrar foco. Seu coração batia rápido, e o peso da exaustão tornava ainda mais difícil a tarefa de pensar. Mesmo assim, esforçou-se para responder ao teste.

Lewis suspirou quando o tempo de prova terminou, e as folhas de respostas foram recolhidas. Ele esfregou as mãos no rosto, desanimado. Lewis sabia que sua nota seria algum menos. Seu desempenho foi horrível.

Quando começou a ouvir passos e movimentos ao redor, estremeceu. Olhou para todos à sua volta com desconfiança, seus dedos apertando a borda da mesa. O ruído de zíperes, cadeiras sendo arrastadas e vozes abafadas indicava que os alunos estavam se preparando para o próximo exame.

Ele deveria fazer o mesmo. Mas seu corpo… estava tão pesado. A tontura aumentava a cada segundo, como se o chão estivesse se dissolvendo sob seus pés.

Quando tentou se levantar, não teve tempo sequer de reagir.

Seu corpo cedeu.

A escuridão o engoliu, e ele caiu desmaiado no chão.

******

Lewis despertou com a cabeça pulsando em dor. O corpo dolorido.

Piscou algumas vezes, tentando ajustar a visão ao ambiente. Foi então que percebeu onde estava.

A enfermaria da escola.

Um suspiro escapou de seus lábios quando tentou se erguer, mas um choque de dor percorreu sua espinha, arrancando-lhe um gemido baixo.

— Você está muito fraco, deite-se por enquanto.

Uma mão suave pressionou seu ombro de volta ao colchão. Ele virou o rosto para encarar a enfermeira, que o observava com gentileza.

— O que aconteceu? — Sua voz saiu fraca e arrastada.

A mulher lhe dirigiu um pequeno sorriso.

— Você desmaiou na sala de aula. Seu amigo trouxe você para cá.

Amigo?

Lewis franziu a testa. Ele não tinha amigos.

— Quem?

A enfermeira pareceu hesitar.

— Ah… Ele não disse o nome.

Ela deu de ombros, como se pedisse desculpas, e se afastou, organizando alguns frascos na prateleira ao lado.

Antes que Lewis pudesse perguntar qualquer coisa, a porta da enfermaria se abriu, e seus músculos se retesaram ao reconhecer a figura que entrou.

O diretor.

Sua expressão séria fez o coração de Lewis acelerar. De alguma forma, aquilo o assustou. Ele não sabia o que havia feito de errado.

O homem se aproximou da cama e parou ao seu lado.

— Tommer, fico feliz que tenha acordado — começou, sua voz carregada de formalidade. — Preciso fazer algumas perguntas e quero que seja sincero comigo. Tudo bem?

Lewis assentiu, hesitante.

— Como você se machucou?

A pergunta o pegou de surpresa.

Ele franziu o cenho, confuso. Foi então que se lembrou.

Os ferimentos.

Instintivamente, levou a mão à testa, e, ao tocar a pele, encontrou um curativo. Só então percebeu que suas mãos também estavam cobertas de pequenos arranhões.

— Eu… caí da escada.

Era mentira. O diretor percebeu isso imediatamente.

Lewis desviou o olhar e escondeu as mãos sob o lençol, tentando esconder o tremor de seus dedos.

O homem suspirou e puxou uma cadeira, sentando-se ao lado da cama.

— Há sangue nas suas calças, Lewis.

Seu coração parou.

Seus olhos se arregalaram, e ele puxou o lençol às pressas.

Foi então que percebeu.

Da cintura para baixo, um pano branco envolvia seu corpo.

O pânico subiu por sua garganta. Ele voltou a encarar o diretor, ofegante.

— Não precisa ficar assustado — a voz do homem era calma, mas firme. — Você só precisa me contar o que aconteceu. Nós queremos ajudar você.

— N-não aconteceu nada.

Foi automático. A resposta saiu rápida demais, carregada de pavor.

O diretor ergueu uma sobrancelha, cético.

— E-eu estou bem. Gostaria de ir para casa.

Lewis jogou o lençol para o lado e começou a sair da cama, seu corpo movido apenas pela adrenalina.

— Se acalme…

O homem segurou seus ombros com cuidado, mas Lewis recuou como se tivesse sido queimado. Ele estava tremendo.

O diretor piscou, surpreso com a reação, mas logo ergueu as mãos em um gesto de rendição.

— Eu só quero ajudar.

— Eu não preciso de ajuda, porque estou bem. — Sua voz saiu mais firme do que ele esperava.

Foi quando a porta se abriu novamente.

Lewis congelou ao ver duas pessoas entrarem.

Um homem e uma mulher, ambos vestidos formalmente em ternos escuros.

Suas expressões eram sérias.

Lewis não os conhecia. E isso só tornava tudo mais assustador.

— Olá, Lewis.

A mulher se aproximou com um sorriso gentil, a voz suave, mas firme.

— Sou a Detetive Parker, e este é meu colega, Jack.

Ela indicou o homem ao seu lado, que lhe dirigiu um breve sorriso.

— Fazemos parte da Unidade de Vítimas Especiais do Departamento de Polícia de—

— P-por que vocês estão aqui? — Lewis a interrompeu abruptamente, sua voz trêmula. Seu olhar alternava, nervoso, entre o diretor e os dois detetives.

— Eu os chamei — o diretor interveio, seu tom calmo, mas inegociável. — Em casos assim, eles precisam ser acionados.

Casos?

A palavra fez seu estômago revirar.

— Que casos?! — Sua voz saiu mais alta do que pretendia. — Eu estou bem!

Seu peito subia e descia em uma respiração acelerada. Sua mente girava, atropelando-se em pensamentos desenfreados. Edward…

Se ele descobrisse que dois detetives estiveram ali, conversando com ele…

Ele ficaria furioso.

Lewis não podia permitir isso. Não precisava dar mais motivos para Edward se irritar.

— Entendemos.

A voz calma de Jack trouxe sua atenção de volta para os detetives.

— Não! — Lewis disparou, seus olhos brilhando com uma raiva que encobria o pânico. — Vocês não entendem! Não sabem de nada!

Seu olhar cortante fixou-se neles, seus punhos cerrados sobre o lençol.

Ele odiava isso.

Odiava quando as pessoas assumiam que sabiam pelo que ele passava. Como se pudessem simplesmente jogar um “vai ficar tudo bem” e esperar que isso resolvesse alguma coisa. Porque não ia.

Nada ia ficar bem.

Mas a Detetive Parker manteve a expressão inalterável, sua calma inquebrável.

— Você tem razão — ela disse, sua voz carregada de paciência. — Por isso queremos conversar com você. Para entender o que aconteceu e poder ajudar.

Lewis desviou o olhar, engolindo em seco.

— Nós só queremos fazer algumas perguntas. Tudo bem? — continuou Parker. — Você não precisa responder se não quiser.

O sorriso dela era genuíno, simpático.

E aquilo o fez se sentir mal por ter sido rude.

Lewis baixou os olhos, começando a beliscar os próprios dedos, um hábito ansioso que já se tornara automático.

Não estava tudo bem.

Nada estava bem.

Mas, ainda assim, ele assentiu.

A detetive sorriu de leve e puxou um bloco de notas e uma caneta.

— Você pode nos dizer como se machucou?

Lewis umedeceu os lábios secos antes de responder:

— Eu… caí da escada.

Parker não demonstrou nenhuma reação imediata. Apenas fez uma anotação e levantou os olhos para ele novamente.

— Quando?

— Ontem à noite.

Ela assentiu e fez mais uma anotação. Depois parou e o encarou diretamente.

— Você já se machucou assim antes?

Lewis hesitou, mas acabou assentindo.

— Caindo da escada?

Ele piscou, sentindo o aperto familiar em seu peito.

— S-sim…

Seus dedos voltaram a beliscar a pele, como se quisesse descontar sua tensão em algo físico.

— Lewis!

Uma voz desesperada cortou a conversa.

Ele ergueu os olhos no mesmo instante, vendo sua mãe entrar apressada na sala, o olhar varrendo o ambiente até encontrá-lo.

— Mãe…

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Samanta já estava ao seu lado, o envolvendo num abraço apertado.

— Querido, fiquei tão preocupada… — Ela segurou seu rosto entre as mãos, analisando-o com olhos aflitos. — O que aconteceu? Quem te machucou?

Lewis congelou.

— Ninguém, mãe. — Sua voz saiu mais contida agora, mas não menos firme. Ele desviou o olhar. — Acabei de falar que caí das escadas ontem.

O silêncio que se seguiu foi espesso, tenso.

Então, a detetive pigarreou.

— Senhora Stewart?

Samanta virou-se para ela, sua expressão confusa.

— Podemos falar em particular?

Parker indicou a porta, e Samanta hesitou antes de assentir.

— Eu já volto, querido.

Ela deu um último olhar para Lewis antes de segui-los para fora da sala.

Lewis apenas observou os três saírem.

— Isso não é possível. — Samanta falou com convicção, negando com a cabeça.

— Segundo a enfermeira, seu filho tem vários hematomas pelo corpo. Hematomas que não poderiam ter sido causados simplesmente por uma queda da escada. Tenho certeza de que, se fizermos exames detalhados, encontraremos ainda mais.

— Você não está entendendo. — Samanta alternou o olhar entre os dois. — Ele é meu filho, eu saberia se algo dessa magnitude tivesse acontecido com ele. — Sua voz carregava firmeza, ela continuou. — Ele disse que se machucou na escada. O que nisso não faz sentido para vocês?

O detetive a observou seriamente antes de responder:

— O fato de seu filho ter sangrado nas calças.

Samanta sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— Me desculpe, mas, a menos que ele tenha histórico de hemorroidas, um sangramento anal não é normal. Ele tem, senhorita Stewart?

Ela recuou um passo, franzindo o rosto.

— N-não… — Seus dedos tremiam ao tocar a própria cabeça. — …Não é possível…

— Eu sei que pode ser difícil, mas precisamos fazer um exame de corpo de delito para descobrir o que realmente aconteceu e qual o estado do corpo do seu filho.

Samanta, atordoada, apenas assentiu.

Os três retornaram ao quarto.

— Mãe? O que aconteceu? — Lewis perguntou assim que viu o rosto visivelmente perturbado da mãe.

Ele estava confuso.

— Querido… — Samanta sentou-se ao seu lado na cama, segurando sua mão com delicadeza. — Meu bem, você precisa contar a verdade para nós. Por favor… O que realmente aconteceu?

— Nada. Não aconteceu nada, mãe, eu juro. Podemos ir para casa? Estou muito cansado…

— Lewis…

— Mãe, por favor. — Sua voz embargou. — Confia em mim, sim? Eu imploro.

Samanta encarou o filho por longos segundos, lendo cada detalhe de sua expressão. No fim, suspirou e apenas assentiu, limpando as lágrimas dele com carinho.

— Se meu filho diz que não foi nada, então não foi.

Ela se levantou e voltou-se para os policiais.

— Não quero aborrecê-los mais. Nós vamos para casa. Obrigada pela preocupação e desculpe qualquer incômodo.

Sem mais delongas, ajudou Lewis a descer da cama.

Ele tentou disfarçar, mas a cada movimento, pequenas expressões de dor escapavam de seu rosto.

Jack percebeu.

A detetive Parker suspirou.

— Está bem. Mas, se acontecer alguma coisa, não hesitem em nos contatar.

Ela puxou um cartão de visita do bolso e o entregou a Lewis.

— A qualquer hora, você pode nos ligar, sim?

O olhar da detetive pousou sobre ele, buscando uma resposta silenciosa.

Lewis apenas assentiu.

Sem mais palavras, os dois detetives deixaram o quarto.

Ele os observou sair, seu olhar fixo na porta por um longo tempo.

Seus dedos, crispados, continuavam a se beliscar com força.

Tanto que a pele já estava começando a machucar.