Eles estavam em casa.

Lewis piscava os olhos, olhando atrvés da janela do carro, e podia ver a sua casa.

Ele não sabia como ou quando isso aconteceu. A última coisa de que se lembrava antes de apagar era da dor excruciante espalhando-se por cada centímetro de seu corpo, dos gritos presos em sua garganta e do olhar impiedoso de Edward. E agora, de repente, estavam ali.

O mundo girava ao seu redor de uma maneira nauseante, e seus sentidos pareciam amortecidos, como se estivesse submerso em uma névoa espessa. Seu corpo não obedecia. Ele tentou se mover, tentou ao menos retirar o cinto de segurança, mas seus membros falharam completamente. Era como se não lhe pertencessem mais.

Lewis estava tão submerso, que nem notou a presença de Edward. Então foi um baque quando a porta do carro foi aberta de repente a presença dele apareceu a sua frente. Automaticamente seu corpo estremeceu, e Lewis se encolheu, querendo afastar-se dele.

Edward desfez o cinto de segurança e lhe pegou no colo. Lewis queria vomitar. Ele pode ter feito algum sinal, pois as mãos de Edward apertaram seus braços.

— Se você vomitar, eu vou largar você aqui na rua.

Lewis estremeceu.

Edward o carregou pelo corredor até seu quarto, e, mesmo se quisesse protestar, Lewis não conseguiria. Cada célula de seu corpo pulsava em dor, cada pequena tentativa de resistência era inútil. Sua consciência vacilava entre a vigília e o esquecimento.

Então, de repente, o impacto.

Edward o soltou sem aviso, e o corpo de Lewis colidiu com força contra o chão. Uma dor lancinante se espalhou por sua coluna e costelas, arrancando dele um gemido alto e trêmulo. Ele arfou, sentindo o ar escapar de seus pulmões como se tivesse sido socado no peito.

A dor se espalhava como fogo, queimando seus músculos já exaustos. Por um momento, ele teve certeza de que algum osso havia quebrado.

Edward se abaixou lentamente ao seu lado, os olhos predatórios brilhando no quarto mal iluminado. O silêncio pesado foi quebrado apenas pelo som de sua respiração descompassada.

— Se você fizer… — Edward começou, sua voz era baixa, arrastada e cortante. — … ou até mesmo pensar em fazer alguma estupidez de novo… — Ele se inclinou, sua boca perigosamente próxima da de Lewis. Os olhos verdes faiscavam com uma promessa cruel.

— Na próxima vez, eu vou convidar a vadia da sua mãe.

O ar congelou nos pulmões de Lewis.

Edward sorriu de lado, satisfeito com a reação, e cravou o olhar nele.

— Meus amigos vão amar devorá-la… E eu vou fazer questão de te obrigar a assistir cada segundo, bem de perto.

Lewis estremeceu, o terror cravando garras afiadas em seu peito.

Satisfeito com a ameaça, Edward se levantou, virou-se sem pressa e saiu, batendo a porta com força suficiente para fazer as paredes tremerem.

Lewis permaneceu ali, caído no chão frio. Seu corpo inteiro tremia, mas ele não conseguia controlar.

Ele se abraçou na tentativa de se conter, de se aquecer, de manter qualquer resquício de sanidade que ainda lhe restava. Mas foi em vão.

Sua cabeça latejava de forma insuportável. Seu estômago se revirava em um turbilhão de náusea e vertigem. Sua visão oscilava entre a realidade e o vazio, incapaz de focar em qualquer coisa por mais de alguns segundos.

Ele tentou se mover, tentou se forçar a levantar, mas seu corpo parecia um peso morto, como se estivesse sendo sugado para dentro de um abismo invisível.

E então, sem forças para lutar contra isso, sua mente cedeu à escuridão.

Lewis desmaiou.

****

Lewis acordou totalmente desnorteado. Ele olhou ao redor assustado, mas se acalmou quando notou que estava em seu quarto.

Ele estava se sentindo horrível. Sua cabeça parece que vai explodir. E ele sentia que iria desmaiar a qualquer momento.

Com dificuldade, ele conseguiu se levantar. A cada passo que dava era um gemido de dor, e eles vinham acompanhados com as lembranças de ontem.

De repente Lewis começou a sentir como se ainda estivesse lá, e toda aquela dor e humilhação parecia se repetir em sua cabeça como um loop.

Lewis estava se sentindo um perdedor. Seu plano havia falhado antes mesmo de começar.

Tudo havia acabado para ele e agora, Lewis estava sem esperança.

É perigoso ficar sem esperança. A pessoa se sente encurralada. E as opções que começam a surgir quando nos sentimos encurralados são assustadoras, e mais ainda o facto de elas serem as únicas que você tem.

Ele ficou mais tempo do que deveria embaixo do chuveiro. Sabia que não fazia diferença, mas mesmo assim era instintiva a vontade desesperada de apagar os vestígios de Edward.

Parecia que, cada vez que Lewis esfregava a esponja em sua pele, a sensação das mãos de Edward em seu corpo aumentava. Então Lewis esfregava e esfregava cada vez com mais força, até sua pele ficar vermelha e irritada.

Lewis continuaria esfregando sua pobre pele, se a dor já não estivesse insuportável. Dessa vez realmente estava uma bagunça devido aos arranhões causados pelos pedaços de vidro.

Lewis finalizou seu banho ao som de seu alarme tocou. Ele não havia visto às horas quando acordou, então não sabia que ainda era cedo. Seu alarme era para às 06:30 da manhã.

Lewis saiu do banheiro cambaleando e, embora sentindo dor em todo corpo, ele se enxaguou e logo saiu para se preparar para a escola.

Lewis não se olhou no espelho, mas ele sabia o quão horrível estava. Pela ardência, ele sabia que tinha um corte acima de sua sobrancelha esquerda, então ele apenas cobriu com o cabelo, e vestiu roupas que cobrissem os hematomas em seu corpo.

Sua pele toda ardia, mas ele não estava ligando. Do mesmo jeito que não queria ir para a escola, mas precisava porque estavam fazendo prova.

Ele desceu devagar as escadas e foi até à cozinha, encontrando apenas sua mãe e Daniel tomando café.

Lewis tentou se recompor e limpou o suor em sua testa, suas mãos estavam frias e trêmulas.

— Oh, bom dia querido! — Samanta exclamou animada assim que notou sua presença.

Lewis caminhou devagar até a mesa, escondendo seu rosto o melhor que podia.

— Você não vai acreditar, ontem Dani me fez uma surpresa tão linda! — Começou a contar animada, o olhar completamente apaixonado em Daniel.

Lewis apenas assentiu, escondendo a expressão de dor quando se sentou na cadeira.

Lewis apenas serviu um pouco de café, e começou a tomar enquanto a mãe contava sobre a noite passada.

Ao que parece, ontem eles passaram a noite no iate de Daniel, e o mesmo havia preparado um jantar surpresa para ela.

Lewis parou de escutar a mãe até certo ponto, talvez porque sentia que se continuasse ouvindo iria desabar.

Ele estava exausto e só queria dormir. Fechar os olhos e talvez nunca mais acordar.

Lewis parou, analisando seus próprios pensamentos. Ele engoliu seco e afastou os mesmos.

Ele olhou rapidamente para a mãe e depois desviou o olhar.

Ele a invejava. Dentre os dois, ela era a única que realmente estava sendo feliz e aproveitando cada dia daquela nova vida que ambos estavam tão felizes e ansiosos para começarem, antes de virem para cá.

E enquanto isso, Lewis estava pagando um preço alto para que sua mãe continuasse em sua bolha de felicidade.

Será que ele era um bom filho, ou apenas um garoto covarde que não conseguia nem salvar a si mesmo?

Ele mordeu o lábio com força o suficiente para arrancar sangue e fez isso por um bom tempo sem nem mesmo perceber.

— Lewis, você está bem? — Daniel o tirou de seus pensamentos.

Samanta parou de falar e olhou pro filho.

Lewis arranhou seus dedos.

— Sim. — Levantou-se. — Eu vou pra escola…

— Ainda é cedo, você não vai comer? — O mais velho perguntou.

Negou com a cabeça. — Meu estômago dói um pouco. Eu vou comer mais tarde na escola.

— Me avise se precisar de alguma coisa.

Lewis apenas assentiu e saiu.

Ele estava tão exausto.