Lewis terminava de se preparar, vestindo devagar cada peça de roupa. Ao pequeno toque do tecido com sua pele ele se encolhia.

Seus movimentos eram mecânicos, desprovidos de vida, como se estivesse apenas seguindo um roteiro que já não fazia sentido.

Já fazia uma semana desde que saíra do hospital. Uma semana desde a última agressão.

Durante todo esse tempo, Edward não havia se aproximado. Nenhuma visita inesperada ao seu quarto. Nenhuma ameaça velada. Nenhuma violência.

E isso era estranho.

Lewis sentia-se aliviado por não precisar encará-lo, por não ter que lidar com sua presença sufocante ou com o medo constante de quando o próximo ataque aconteceria. Mas ao mesmo tempo, a ausência de Edward era aterrorizante.

Porque nada ficava em silêncio por muito tempo.

As coisas não ficavam simplesmente bem.

Ele aprendera isso da pior maneira.

Se Edward não estava fazendo nada agora, significava que algo pior estava por vir. E essa incerteza, essa antecipação, o deixava em pânico.

Ele sabia que, em algum momento, o silêncio seria quebrado. E quando isso acontecesse, não haveria nada que pudesse fazer para impedir.

Seu estômago revirou, e ele sentiu um gosto amargo na boca.

Desviando os pensamentos, Lewis parou diante do espelho.

Ele não se lembrava da última vez que havia se olhado com atenção.

Seu reflexo era quase um estranho.

O rosto pálido, os olhos fundos e cercados por olheiras profundas, uma prova de suas noites mal dormidas. Os pesadelos o perseguiam sem trégua, arrastando-o de volta para memórias que ele queria esquecer.

Mas o que mais chamou sua atenção foi sua magreza.

Ele já sabia que estava emagrecendo. A fome já não era algo que o incomodava tanto quanto antes. Seu apetite desaparecera, e muitas vezes ele só comia porque sua mãe insistia. Mas vê-lo refletido no espelho era diferente.

Suas roupas pareciam mais largas do que antes. Seu rosto estava afilado, sua clavícula mais evidente.

Ele franziu o cenho, sentindo um aperto estranho no peito.

Por que estava assim? O que havia mudado tanto nele?

Seus dedos deslizaram involuntariamente pela pele fina de seu rosto. Sua aparência gritava cansaço, desgaste. Ele parecia alguém que carregava o peso do mundo nos ombros.

E, de certa forma, era exatamente assim que se sentia.

Então, algo perturbador passou por sua mente.

Por quê?

Por que ele?

Ele nunca se considerou especial. Não se achava atraente. Seu corpo era pequeno demais, suas curvas mais acentuadas do que gostava. Ele nunca se encaixou no padrão de beleza que a sociedade impunha, e por isso nunca se importou com sua aparência.

Então, por que?

Por que, entre todas as pessoas, Edward o escolheu para destruir?

Lewis nunca quis entender seu agressor. Nunca quis buscar explicações para o que ele fazia. Mas, inevitavelmente, sua mente retornava às mesmas perguntas, como um ciclo vicioso do qual não conseguia escapar.

No começo, ele pensava que aquilo era apenas uma fase.

Que eventualmente, Edward se cansaria.

Que, depois de extravasar toda sua raiva, ele simplesmente o deixaria em paz.

Mas já faz mais de um ano.

E nada mudou.

Se fosse apenas ódio, como Lewis acreditava no início, então por que Edward ainda insistia?

O que o fazia continuar o torturando?

O que ele queria?

Edward podia ter qualquer pessoa. As meninas da escola praticamente se jogavam para ele. Ele poderia escolher qualquer uma delas. Então, por quê?

Nada fazia sentido.

E talvez Lewis nunca encontrasse uma resposta.

Mas, no fundo, ele sabia que não importava.

Ele não queria entender.

Ele queria se livrar dele.

Queria acabar com aquilo antes que sua mente finalmente cedesse ao abismo.

Inspirando profundamente, ele afastou o olhar do espelho.

Pensar em tudo aquilo não mudaria nada.

O que ele precisava agora era encontrar uma solução.

Precisava descobrir como sair dessa situação antes que fosse tarde demais.

Porque, se continuasse esperando, apenas aceitando o que acontecia, ele sabia que não restaria nada dele para salvar.

Lewis pegou sua mochila e saiu do quarto.

*********

Para Lewis, aquele estava sendo um dos dias mais longos da sua vida.

Ele preferia mil vezes ter ficado em casa, escondido sob o conforto frágil de seus lençóis, onde pelo menos o mundo lá fora não podia tocá-lo.

Mas ele sabia que não podia continuar fugindo.

Faltar mais aulas só tornaria tudo mais difícil. O acúmulo de matérias seria insuportável, e ele não tinha ninguém para lhe passar o conteúdo ou explicar o que perdera durante sua ausência. Estava sozinho nisso, como em tantas outras coisas na vida.

Então, ele precisava aguentar.

Mesmo que sua mente gritasse para fazer o contrário.

Desde o momento em que chegou à escola naquela manhã, Lewis manteve-se comportado, como se fosse um fantasma vagando pelos corredores. Passou direto por todos, sem trocar olhares, sem dizer uma palavra. A sensação de invisibilidade, para ele, era reconfortante.

Ninguém falou com ele. Ninguém sequer olhou em sua direção.

E isso era bom.

Na verdade, era o melhor que poderia acontecer.

Quanto mais invisível ele fosse, menor a chance de atrair atenção indesejada. Edward não sentiria a necessidade de humilhá-lo ou de lembrá-lo do lugar miserável que ele acreditava que Lewis pertencia.

Ser invisível significava sobreviver.

Quando o sinal do final da aula do primeiro período tocou, Lewis continuou sentado em sua carteira, imóvel.

Não tinha planos de sair dali.

O intervalo era o momento mais perigoso. Pessoas andando por todos os lados, interagindo, se esbarrando—e tudo isso aumentava as chances de algo dar errado. Ele sabia que qualquer aproximação poderia ser um gatilho para a fúria de Edward.

Então, decidiu ficar na sala, onde pelo menos o silêncio e a solidão podiam protegê-lo.

Mas seu plano foi interrompido quando ouviu passos se aproximando.

Ele congelou, o estômago revirando de nervoso.

E então, a voz.

— Le! Hey, o que aconteceu? Você sumiu.

Lewis ergueu o olhar devagar, encontrando Nick parado ao seu lado, o rosto contorcido em uma expressão de preocupação genuína.

Le?

De onde aquilo veio?

Lewis piscou, confuso. Ele tinha certeza de que nunca havia trocado mais do que algumas palavras com aquele garoto. Então, de onde vinha essa suposta intimidade?

Um alarme disparou em sua mente.

Ele precisava cortar isso antes que fosse tarde demais.

— Por favor, não me chame assim. — Respondeu rapidamente, sua voz baixa, mas firme.

O loiro coçou a cabeça, visivelmente desconfortável com a resposta. — Ah… Foi mal. É que eu gosto de atribuir apelidos aos meus amigos, mas se você não gosta, eu—

— Nós não somos amigos. — Lewis o interrompeu bruscamente, levantando-se de repente e pegando suas coisas com as mãos trêmulas. — Eu agradeceria se você não falasse comigo novamente. Por favor.

Não esperou pela reação de Nick.

Não queria ver a expressão dele, não queria saber se ele estava chateado, confuso ou ofendido.

Tudo o que importava era manter-se seguro.

E segurança, para Lewis, significava uma coisa: manter distância.

Ele saiu da sala com passos apressados, o coração batendo forte. Cada batida parecia ecoar em sua cabeça, misturando-se com pensamentos confusos e sentimentos conflitantes.

Ele sabia o que estava fazendo. Sabia que estava afastando uma das poucas pessoas que haviam tentado se aproximar sem segundas intenções.

Mas ele não podia se dar ao luxo de ter amigos.

Porque ter amigos significava criar laços.

E laços podiam ser usados contra ele.

Edward já havia provado isso mais de uma vez.

Lewis estava cansado.

Cansado de fingir. Cansado de lutar contra o medo. Cansado de tentar manter as aparências quando tudo dentro dele estava desmoronando.

Ele sentia-se no limite, como se estivesse pendurado à beira de um precipício, segurando-se por um fio fino demais para aguentar seu peso.

Por um breve momento, ele pensou em Nick novamente.

Na expressão preocupada, na tentativa desajeitada de criar uma conexão.

E uma parte de Lewis queria ter aceitado aquilo.

Queria, desesperadamente, ter alguém com quem conversar.

Mas ele não podia.

Porque ser invisível ainda era a melhor maneira de sobreviver.

Mesmo que, por dentro, ele já estivesse se despedaçando.