Lewis odiava os finais de semana.
Na verdade, não havia nenhum dia da semana que ele não odiasse. Porque Edward usava qualquer dia para abusar dele. Bastava ter a oportunidade certa.
Mas talvez Lewis odiasse muito mais os domingos. Pois, sendo o único dia de folga de Daniel, ele e sua mãe sempre jantavam fora. Na verdade, parecia um ritual dos dois – durante a semana trabalhavam incansavelmente, mas no domingo, sem falhar, relaxavam juntos em algum restaurante ou hotel. Não importava se estavam cansados ou se havia algo mais urgente para fazer; aquele momento parecia intocável para eles.
Lewis, por outro lado, ficava em casa.
Sozinho.
Ele nunca sabia se deveria se sentir aliviado ou ainda mais ansioso com a ausência dos dois. A casa ficava silenciosa, o que, por um lado, oferecia uma breve sensação de paz. Mas, por outro, o silêncio podia ser uma armadilha, uma pausa tensa antes do próximo pesadelo.
Edward não seguia horários. Ele vinha e ia como um predador à espreita, aguardando o momento certo para atacar.
A presença de Edward era sufocante, um peso invisível que Lewis sentia constantemente sobre os ombros. Mesmo quando o rapaz não estava por perto, era como se ele ocupasse cada canto da casa, deixando um rastro de medo e tensão que Lewis não conseguia evitar.
Ele vivia sob um estado de alerta permanente, como um animal encurralado, sempre esperando pelo próximo movimento de seu caçador.
Naquela noite, Lewis estava trancado no quarto. Ele sempre trancava a porta quando sabia que ficaria sozinho. Era um hábito que adquirira há muito tempo, uma tentativa desesperada de criar uma barreira, ainda que frágil, entre ele e Edward.
Sentado no chão, encolhido no canto entre a parede e o armário de roupas, ele abraçava os joelhos com força, como se isso pudesse protegê-lo do mundo ao seu redor.
O quarto estava escuro, iluminado apenas por uma pequena fresta da janela, que permitia a luz da rua entrar e projetar sombras suaves nas paredes.
Lewis observava essas sombras sem realmente vê-las. Sua mente estava longe, perdida em pensamentos que ele preferia evitar.
Ele se perguntava, como fazia frequentemente, o que havia feito para merecer aquilo. Em que momento de sua vida as coisas haviam dado tão errado? Não conseguia encontrar respostas, apenas o vazio que parecia crescer dentro dele a cada dia.
Sua respiração era baixa e irregular. Ele havia aprendido a respirar assim quando estava sozinho – como se pudesse desaparecer, como se pudesse enganar o próprio ar ao seu redor para não ser percebido. Era um reflexo de anos de convivência com o medo, um mecanismo de sobrevivência que ele havia aperfeiçoado sem sequer perceber.
Lewis não sabia se Edward estava em casa. Ele não ouviu nenhum som desde que Daniel e sua mãe haviam saído, mas isso não significava nada. Edward podia ser sorrateiro quando queria, e Lewis sabia que nunca estava realmente seguro.
Ele tentou ouvir qualquer coisa além do silêncio – um rangido, um movimento, qualquer indício de que não estava sozinho. Mas a casa permanecia quieta, tão quieta que ele podia ouvir o som de sua própria respiração ecoando em seus ouvidos.
Em algum momento, ele adormeceu.
Era um sono inquieto, povoado por sonhos confusos e fragmentados que não faziam sentido. Em um deles, ele estava de volta ao parque, sentado em um banco enquanto o vento frio soprava em seu rosto. Era uma cena tranquila, quase reconfortante, mas mesmo ali, ele sentia a presença de Edward pairando sobre ele como uma sombra.
Lewis acordou de súbito, seu coração batendo acelerado. Por um instante, não sabia onde estava. O escuro do quarto parecia sufocante, e ele levou alguns segundos para lembrar que havia trancado a porta antes de se sentar no chão de seu quarto. Mesmo assim, o medo não desapareceu. Porque, independentemente de suas tentativas, Edward sempre conseguia entrar.
Ele passou as mãos pelo rosto, tentando afastar o resto do sono e as imagens perturbadoras que ainda pairavam em sua mente. Seu corpo estava rígido por causa da posição em que havia dormido, e ele se moveu lentamente, esticando as pernas e os braços enquanto olhava ao redor do quarto.
Tudo parecia tão normal, tão comum, mas Lewis sabia que aquilo era apenas uma ilusão. Não havia nada de normal na sua vida.
Ele se levantou, andando até a janela e espiando pela fresta da cortina. A rua estava vazia, iluminada pelos postes e pelas luzes fracas das casas vizinhas.
Ele viu um casal caminhando de mãos dadas e sentiu uma pontada de inveja. Para eles, o mundo lá fora era seguro. Para Lewis, era apenas mais um lugar onde o medo podia segui-lo.
Voltando para o canto onde estava antes, ele se sentou novamente no chão. Era o único lugar onde se sentia minimamente protegido, com as costas contra a parede e o armário ao seu lado, formando uma espécie de refúgio improvisado.
Lewis sabia que não poderia ficar ali para sempre. Eventualmente, teria que sair daquele quarto, encarar o mundo lá fora e, pior ainda, encarar Edward.
Mas, por enquanto, ele permaneceria naquele canto, abraçado a si mesmo, tentando reunir forças para enfrentar mais um dia. Lewis tentou não dormir novamente, mas eventualmente o cansaço o venceu.
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Lewis despertou de forma abrupta, um puxão violento em seu cabelo o arrancou de seu torpor e o jogou no chão com brutalidade. Ele mal teve tempo de processar o que estava acontecendo. Seu coração disparou no peito, a adrenalina queimando em suas veias.
— Você realmente achou que podia fugir de mim?
A voz de Edward era fria. Seus olhos estavam tomados por uma fúria insana, e o sorriso em seu rosto tornava tudo ainda mais aterrorizante.
Lewis tentou se levantar, desesperado, seus instintos gritando para correr até a porta, mas Edward foi mais rápido. Ele agarrou o cabelo de Lewis novamente e o puxou de volta, forçando-o a encarar sua expressão ameaçadora.
Lewis tentou soltar as mãos do outro, puxando com todas as forças, mas era inútil. Edward era mais forte, e o desespero de Lewis apenas parecia diverti-lo mais.
— Eu não fiz nada, por favor, Edward! — Lewis gritou, as palavras saindo entrecortadas pelo pânico.
— Responde, porra! — Edward berrou antes de socar o estômago de Lewis com força. O impacto o fez dobrar o corpo, o ar fugindo completamente de seus pulmões.
— M-me perdoa… Por favor… por favor… — Lewis implorava, lágrimas escorrendo por seu rosto.
Mas Edward não se comoveu. Pelo contrário, parecia alimentar-se do desespero do rapaz.
— Você pensou que podia me fazer de idiota? Onde você estava? Você foi procurar outro pra encher seu buraco, caralho!?
Cada palavra vinha acompanhada de um movimento violento – um puxão no cabelo, um empurrão, um golpe. Lewis sentia-se como uma marionete nas mãos dele, completamente impotente.
— Eu juro… — Lewis soluçava, sua voz mal saía. — Eu só não estava bem, eu fui no parque e apenas fiquei lá um tempo para descansar um pouco, eu juro…
Sua tentativa de se explicar foi recebida com mais violência. Um golpe forte atingiu seu maxilar, e Lewis teria desabado no chão se Edward não o segurasse pelo cabelo. A dor irradiava por todo o rosto, e ele tossiu, cuspindo sangue no chão.
Outro soco. Dessa vez, no olho esquerdo. A visão de Lewis começou a escurecer, e ele sentiu a cabeça girar. O chão parecia instável sob seus pés, e ele só queria apagar, queria que tudo parasse.
Mas Edward não parava.
Golpe após golpe, o rosto de Lewis foi atingido. Ele havia parado de gritar, seu corpo mal reagia. Apenas soluçava baixinho, como um animal ferido. Sua visão estava embaçada, seus ouvidos zumbiam, e tudo parecia distante, como se ele estivesse se desligando da própria realidade.
Quando Edward finalmente o soltou, Lewis caiu no chão como uma marionete sem fios. Seu corpo estava mole, os músculos recusando-se a obedecer. Ele mal conseguia respirar, e o sangue que escorria de sua boca e nariz manchava o chão ao seu redor.
Ele ouviu os passos de Edward se afastando. Eles soaram altos no silêncio da casa, ecoando como um lembrete cruel de que ele estava sozinho. Lewis não conseguiu mover-se para verificar se o outro havia saído ou não. Ele apenas permaneceu no chão, a respiração pesada e irregular, até que finalmente fechou os olhos e apagou.