Suas mãos suavam, e ele as apertava em punhos sobre o colo, os dedos trêmulos revelando a tensão que dominava seu corpo. Os lábios estavam presos entre os dentes desde o minuto em que sentou em seu lugar, tentando, inutilmente, conter o desconforto que latejava em cada centímetro do seu corpo.

A sala de aula parecia girar ao seu redor. A explicação que o professor dava se misturava em um zumbido distante que parecia ecoar dentro de sua cabeça. Lewis mantinha os olhos fixos na superfície arranhada de sua carteira, tentando evitar qualquer contato visual, tentando se fazer pequeno, invisível.

Cada respiração era um esforço monumental. Seu corpo inteiro parecia pulsar em agonia, e a dor era insuportável. Lewis queria apenas correr para casa, deitar em sua cama e fechar os olhos até que tudo desaparecesse.

Sua bochecha ainda ardia tanto, e seu corpo doía tanto que sentar havia sido um ato de extrema coragem. Cada movimento era uma tortura. 

Lewis engoliu em seco, forçando-se a manter os olhos abertos, mesmo que suas pálpebras pesassem toneladas. Ele sentia um nó na garganta, um nó tão apertado que tornava a simples tarefa de respirar quase impossível.

— Tommer? — a voz do professor chamou, e ele se sobressaltou levemente. — Está tudo bem?

Lewis piscou os olhos, processando as palavras do professor. Ele demorou um pouco para responder.

— S-sim, senhor… — murmurou, sem levantar o rosto.

O professor hesitou por um segundo, mas voltou a se concentrar na lição. Lewis agradeceu silenciosamente. Ele não queria atenção. Não queria que ninguém o olhasse, não queria que ninguém perguntasse nada.

Quando finalmente o sinal do final das aulas tocou, Lewis quase soltou um soluço de alívio.

Os outros alunos começaram a se levantar, as cadeiras arrastando-se pelo chão, as vozes elevando-se enquanto as pessoas começavam a sair. Lewis permaneceu sentado por alguns segundos, com o olhar fixo nas próprias mãos trêmulas. Ele precisava se levantar, precisava sair dali.

Com cuidado, ele começou a recolher suas coisas. Seus movimentos eram lentos, calculados, cada músculo gritando em protesto. Quando finalmente se levantou, uma onda de dor subiu por sua coluna, fazendo suas pernas fraquejarem. Ele se segurou na carteira ao lado, fechando os olhos com força e respirando fundo.

Lewis ajeitou a mochila nas costas. O que ele mais queria era sair dali rapidamente, mas Lewis não tinha escolha além de caminhar lentamente. Ele fazia careta de dor a cada passo que dava.

Os outros alunos saíam com pressa, alguns esbarrando nele, mas ninguém realmente o notou. Ele era apenas mais um rosto pálido e perdido no fluxo constante de estudantes.

Lewis tinha que se concentrar para não desmoronar ali mesmo. Ele manteve o olhar baixo, os braços pressionados contra o corpo, como se estivesse tentando se proteger do mundo ao seu redor.

— Lewis… — uma voz suave chamou atrás dele.

Ele se virou rapidamente, o coração quase saindo pela boca, os olhos escaneando o ambiente à procura de Edward. Quando Lewis não o viu, ele olhou pra pessoa que o chamou. Era Alex. E ele o encarava com uma expressão preocupada no rosto.

Alex era alto, de ombros largos, e seu rosto carregava uma expressão sincera de preocupação que quase fez Lewis desabar ali mesmo. Era tão raro ver alguém olhar para ele daquela forma que parecia errado.

— Sou eu — Alex disse baixo, levantando as mãos em um gesto de paz. — Não se mexa.

Lewis franziu o cenho, confuso. Ele sentiu as mãos suarem ainda mais, os joelhos quase cedendo sob o peso de seu corpo frágil e exausto.

Alex deu um passo para frente, aproximando-se com cuidado, como se tivesse medo de assustá-lo. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro:

— Olha, não quero te deixar desconfortável, mas… tem sangue na sua calça. Vou te dar meu casaco, você pode amarrar na cintura, tudo bem?

Os olhos de Lewis se arregalaram, o rosto corando imediatamente de vergonha. Ele abaixou a cabeça, sentindo o peso daquela humilhação esmagar seus ombros. Sua respiração ficou presa na garganta, e ele mordeu o lábio com força, tentando não deixar as lágrimas caírem.

— O-obrigado… — murmurou quase inaudível, enquanto Alex tirava o casaco e entregava a ele.

Com dedos trêmulos, Lewis amarrou o casaco ao redor da cintura, tentando ignorar o olhar preocupado de Alex. Ele podia sentir o olhar dele queimando em sua pele, como se Alex soubesse mais do que estava dizendo.

Por um momento, eles ficaram em silêncio. O corredor estava quase vazio agora, e apenas alguns ecos distantes de vozes podiam ser ouvidos.

— Lewis… — Alex chamou novamente, a voz gentil. — Não sei o que está acontecendo, mas… talvez seja melhor você ir à um hospital. Isso pode ser sério.

Lewis balançou a cabeça rapidamente, sua voz falhando quando tentou responder:

— E-eu vou…

Seu olhar continuava fixo no chão, os ombros curvados como se ele carregasse o peso do mundo sobre eles.

— Tudo bem. Se cuida, tá bom? — Alex colocou uma mão leve no ombro de Lewis antes de se afastar.

Quando Alex desapareceu pelo corredor, Lewis ficou parado ali por alguns segundos, tentando controlar a respiração. Seu corpo tremia, e ele podia sentir as lágrimas ardendo nos olhos, prestes a cair.

Ele queria desaparecer, ser engolido pelo chão e nunca mais ser visto por ninguém. As lágrimas ameaçavam cair, mas ele as segurou com força.

O mundo ao seu redor parecia continuar girando normalmente. Mas dentro dele, tudo estava desmoronando.

Lewis ficou parado ali por alguns segundos, tentando controlar a respiração. Ele queria desaparecer, ser engolido pelo chão e nunca mais ser visto por ninguém. As lágrimas ameaçavam cair, mas ele as segurou com força.

Atravessando o corredor, ele manteve os olhos baixos, os passos cuidadosos. Ele sabia que qualquer pessoa mais atenta perceberia que havia algo errado, e ele não queria, de forma alguma, mais olhares sobre si. Felizmente, o mundo sempre parecia ocupado demais para prestar atenção nele.

Quando finalmente chegou ao estacionamento, Lewis encostou-se ao carro de Edward, os ombros caídos e a cabeça baixa. O vento frio soprava, e ele abraçou o próprio corpo, tentando se aquecer.

Edward chegou alguns minutos depois, os passos confiantes e o rosto inexpressivo. Ele destravou as portas do carro sem dizer uma palavra, entrou e esperou que ele fizesse o mesmo. Lewis entrou com cuidado, cada movimento calculado para evitar mais dor.

O ambiente dentro daquele carro era pesado e sufocante.

Na verdade, para Lewis estar em qualquer lugar onde Edward estava era sempre sufocante.

— O que Alex queria? — A voz de Edward cortou o silêncio e junto seus devaneios.

Lewis arregalou os olhos, o coração disparando novamente. Como ele sabia? Ele tinha certeza de que Edward não os tinha visto conversando.

— E-ele só avisou que tinha sangue na minha calça… e me deu o casaco dele para cobrir… — explicou com a voz fraca, os olhos fixos nos próprios dedos, que tremiam levemente sobre o colo.

Edward bufou, batendo com força no volante, fazendo o Lewis estremecer.

— É por isso que eu digo pra você se limpar direito, porra! — rosnou, a voz carregada de raiva.

Lewis encolheu os ombros e abraçou o próprio corpo, tentando conter os tremores que dominavam cada fibra de seu ser. Sua mente estava um caos, imagens de punições passadas invadindo seus pensamentos como um pesadelo incessante.

— D-desculpa… — murmurou, a voz embargada.

Edward não respondeu. Seus olhos estavam fixos na estrada enquanto ele dirigia com velocidade e agressividade. O silêncio voltou, mas dessa vez, era ainda mais pesado.

De repente, Edward fez uma curva brusca e parou o carro no acostamento, os pneus cantando contra o asfalto. Ele tirou o cinto de Lewis de forma bruta, abriu a porta do carro e rosnou:

— Sai.

Lewis olhou para ele, confuso.

— O q…

— Sai do carro, porra! — Edward gritou, os olhos cheios de fúria.

— Ma-mas Edward, ainda falta muito pra chegarmos em casa… — tentou argumentar, a voz trêmula.

— Foda-se. Você já me irritou demais por hoje. Cada vez que eu olho pra você, tenho vontade de socar sua cara. Então, se você não quer chegar em casa desfigurado, sai da porra desse carro agora, Lewis.

Os olhos de Lewis se encheram de lágrimas, mas ele obedeceu. Saiu do carro com pressa, fechando a porta com cuidado. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Edward acelerou e desapareceu na estrada, deixando apenas poeira e o som distante do motor.

Lewis ficou ali, parado no acostamento. O vento frio cortava sua pele, e suas mãos tremiam tanto que ele mal conseguia se mover. As lágrimas finalmente caíram, grossas e pesadas, escorrendo por seu rosto sem que ele pudesse contê-las.

Suas pernas cederam, e ele caiu de joelhos no chão áspero.

O casaco de Alex ainda estava amarrado em sua cintura, e ele agarrou o tecido com força, como se pudesse se proteger da dor esmagadora que sentia no peito.

Ele chorou. Chorou até que sua visão ficasse embaçada, até que sua garganta doesse, até que não houvesse mais lágrimas para derramar.

Naquele momento, naquela mesma calçada, Lewis permitiu-se desmoronar por completo.

Ele estava sozinho.

Tão quebrado que parecia impossível juntar os cacos novamente.